Querido Papai Noel,
Acho que faz uns 20 anos que eu não te escrevo uma carta. Parei de acreditar, inclusive, que o senhor era de verdade quando um amigo sem graça da escola me alertou sobre a sua não-existência, e daí as forças do universo desencadearam uma cascata de desilusões que até hoje não param de acontecer. Sendo assim, resolvi por conta própria e sem terapia de regressão que voltaria a acreditar no senhor como uma nova tentativa de desvendar se é realmente o retorno de saturno que anda sabotando a minha vida ou o fato de eu ter perdido a crença no lúdico desde aquele dia na escola.
E por que não acreditar, não é mesmo? Acreditamos em tanta coisa, principalmente eu, que sou solteira, independente e estou fazendo MBA em fanfarronismo masculino. Antes eu continuasse acreditando no senhor, no Coelhinho da Páscoa, na Fada do Dente e nos Smurfs, os quais já cheguei até a visualizar uma vez embaixo da minha cama (sim, foi muito real e nessa época eu ainda não bebia). Inclusive, passa agora pela minha cabeça, e não é preciso fazer uma pesquisa antropológica para chegar a essa conclusão, que a culpa não é sua, mas da Xuxa pela evolução hormonal e comportamental das moças da minha idade. Perdão.
Somos, antes de tudo, como posso dizer... ingênuas. Sim, claro, como não seria quando você cresce martelando seu cérebro com o mantra “Doce, Doce, Doce, a vida é um doce, vida é mel”? Mas o que foi pior é que as mulheres como eu, hoje com 29 anos, solteiras e independentes, vivenciaram uma sinastria cósmica e midiática em um momento muito determinante para a construção da nossa personalidade quando a Xuxa lançou a canção mais inviável do mundo. Éramos pré-adolescentes, começando a descobrir o frio na barriga por causa daquele menino da sala que hoje está com 2 filhos e uma mulher desleixada, quando a Xuxa nos presenteou com Lua de Cristal.
Analisando bem a canção, eu penso em propor um projeto de lei que proíba a rainha dos baixinhos de fazer novas versões para os próximos 64 XSPB. Não, tudo pode ser e se quiser, será, não existe. Talvez a Sasha consiga praticar essa frase porque ela vive em um mundo cor de rosa (e você não sabe, Santa, como me dói dizer isso tendo em vista que nascemos no mesmo dia, apenas com um pequeno intervalo de anos). Sonhos sempre vêm pra quem sonhar é, no máximo, uma péssima estrofe (e só perde para as tentativas de composição da Sandy). Buscar a sorte e ser feliz podia ser um mote para campanha de lotéricas, mas não rola. Sorte não se busca. Ou você é abençoado com pérolas do acaso, ou vai passar a vida tendo que suar pra ser feliz. Fato.
Mas a melhor parte, Papai Noel, é quando as Paquitas entraram nesse projeto messiânico e nos fizeram acreditar que somos invencíveis e que juntos não existe mal nenhum. Realmente, por três anos consecutivos, eu achei que isso era possível porque a minha turma sempre era campeã da gincana de final de ano. Só que depois que eu comecei a usar calças jeans e tive intervalos em vez de recreio, essa afirmação ficou meio obscura pra mim. Ela foi elucidada no meu primeiro carnaval em Salvador, quando eu percebi que estar junto de 1 milhão de pessoas faz mais mal do que ficar sozinha em casa assistindo o desfile das escolas de samba. Sem falar que foi um processo penoso entender que o príncipe encantado não chega em um cavalo branco. Mas sim, ah isso sim, o que não falta no caminho são variações do Sérgio Mallandro tentando te convencer do contrário.
Então, voltando à construção de argumento, afirmei que as mulheres da minha geração são ingênuas. Preciso explicar? Acho que não porque eu acredito que, assim como Deus, o senhor é onipresente, onisciente e onipotente, ou senão você teria que ter uma equipe maior do que a do Google para dar conta de tanta gente carente. Além de ingênuas, nós nos metemos em outra sinastria cósmica, astral e desonesta ao nos colocar antes de uma geração de meninas que cresceram ouvindo Ivete Sangalo e agora estão no mercado. O senhor há de concordar que uma menina que se desenvolve cantando “Me abraça, me beija, me chama de meu amor” está anos-luz na frente dessas desajeitadas balzaquianas que passaram a infância pintando um arco-íris de energia. Enquanto fazemos a linha “seu irmãozinho é uma gracinha, e eu sou todinha do bem”, elas já estão, todas juntas, celebrando a vida, fazendo um auê e mandando ver.
Parênteses: tenho uma admiração sincera pela geração 2000. Nativos digitais e hedonistas que não passaram por solução de continuidade alguma. Já nasceram em um mundo pleno de possibilidades e encaram a vida sem grandes problemas. Claro, sempre existem as almas velhas que acham bonito cultivar a inviabilidade do passado, mas a essência está ali.
Bem, Papai Noel, vamos ao que interessa. Tive um ano difícil em todos os campos da minha vida. Passei pelo meu ano 9 com a cabeça erguida. Chorei baldes, mas ocupei o meu, só o meu, espaço. Tá, viajei bastante, conheci novos amigos, mas o processo de auto-conhecimento tem que ser balanceado com alguns momentos bons, não é mesmo? Do contrário, qualquer mulher que encara o espelho, a solidão e os desafios profissionais durante o Retorno do lastimável do Saturno terminaria a vida ali mesmo, envenenada na sala de casa, ao som de Edith Piaf.
Não vou pedir nada diretamente. Até porque esse é um primeiro contato depois de anos e uma tentativa de quebrar o gelo. Sem falar que se o senhor realmente existir e for onipresente, onisciente e onipotente, já está careca de saber qual a minha lista pequena com 39 desejos. Sei que alguns eu talvez só conquiste depois que me mostrar mais confiante da sua existência. Por enquanto, acho que é isso. Aqui estou eu, tentando ser menos cética. Avisa pro Coelhinho da Páscoa que a carta dele vai chegar. Quanto à Fada do Dente, espero não encontrá-la nem tão cedo. Já os Smurfs, esses podem ficar afastados também. Até hoje não me recuperei daquele encontro noturno.
Feliz Natal pro senhor, pra Mamãe Noel e pras renas.
Kadydja
Sunday, December 20, 2009
Tuesday, December 15, 2009
Imagens e poemas
Existem algumas imagens que eu não capto sozinhas. Elas vêm com palavras. E essa é uma delas.
Isso de buscar desenho em nuvens,
É passatempo pro tempo que nem passa.
Essa sina de horizonte em todo azul,
É querer freio pra chuva que não cessa.
O pôr do sol apresenta mais de um caminho
De cores, de ventos, de horizontes.
Desalinho?
Lá de longe, tudo belo, plástico
tudo orgânico, perecível, aqui embaixo.
Mais um tempo, mais um pôr,
Mais um porém.
E lá no alto... vai o céu ou o certo,
nada concreto, nada asfalto.
Kadydja Albuquerque > 14/12/2009
Caminhar
Ando vivenciando conflitos e não tenho problema algum em afirmar isso. Problema, eu tenho em dizer quais são. Não porque queira esconder dos outros, mas porque eu gostaria de vomitá-los, todos, em um banheiro público de beira de estrada e dar descarga, só para ter a certeza de que eles nunca voltariam a me encontrar.
Mas a vida é cretina. É aquele tipo de amigo falso que te vê fazer um monte de escolhas, sabendo que lá na frente as conseqüências chegam, e ele vai poder dizer com toda pompa: eu te avisei. Os meus conflitos não residem no arrependimento, muito pelo contrário. Talvez seja um desvio de caráter meu, mas eu me arrependo de muito pouca coisa na vida. E sempre são coisas que eu não fiz ou não disse e, por isso, o mundo girou ao contrário do que eu esperava.
Os meus conflitos são específicos de fim de ciclo. É quando se avista o final de uma estrada e você se pergunta: e agora? O que eu trouxe comigo? O que vem pela frente? O que eu sou ou, mais cruel ainda, que quero ser na minha vida e quanto eu já caminhei pra isso? Caminhar é um verbo sensacional. Estou lendo um livro em que a autora fala sobre o exercício de escolher uma palavra para definir a sua vida no momento. Ela só consegue pensar em verbos. Eu paro e penso sobre mim, e também imagino minha vida toda resumida em um único verbo: caminhar.
Até cheguei a ficar balançada entre Caminhar e Esperar. Mas eu não sei esperar. Esperar não é um verbo que resume minha essência. É algo que eu busco como certificado de evolução pessoal. No dia em que eu conseguir esperar algo, me sentirei melhor comigo mesma. Eu vivo com pressa. Quero tudo agora e não basta vir de qualquer jeito. Tem que ser do jeito mais perfeito possível. Perfeito como eu não sou, perfeito como eu exijo que sejam os outros. Não que perfeito seja não ter erros. É ser exatamente do jeito que eu imagino. E, sim, imaginar poderia ser meu verbo também, porque é uma fonte que nunca vai cessar aqui dentro. É o meu alimento quando olho pra fora e tudo acontece, ou nada acontece.
Então eu fico com o Caminhar. Saio caminhando assim, procurando perfeições construídas em minha mente eufórica. E percebo, ao olhar para trás, que eu já caminhei centenas de milhares de quilômetros, e cada trecho de um jeito. Houve momentos em que eu apenas caminhei, vagarosa, contemplando o ambiente. Em outros, marchei firme e com a segurança de um olhar sempre ao norte. Tiveram tempos que saltitei de mãos dadas; outros, me rastejei; em alguns, dei passos para trás e quando me senti segura, saltei. Mas eu nunca parei de caminhar. E isso é muito perigoso, porque parar é também um verbo de evolução, ainda que seu sentido seja contrário ao do verbo evoluir.
Talvez seja o primeiro momento em minha vida que eu pense em parar tudo. Ou seria, silenciar? Impossível. Sim, silenciar é um verbo rejeitado pelo meu corpo. Gosto de dizer as coisas e sempre busco a melhor forma. Embora eu nunca consiga achar a melhor forma. A forma como eu digo é sempre desengonçada. Nessa hora, eu rio de mim. E isso é um efeito do meu caminhar. Eu já me aceito como uma espécie trágica de oradora (ou seria de realizadora?). Falta agora eu aceitar outras coisas. Aliás, falta eu me preocupar menos com os olhos que me assistem caminhar. Estou aqui, marchando mais uma vez pela vida, quase certa do que me motiva, quase louca por não saber onde vou chegar e o que vou levar de tanto caminho. Não deveria pensar em olhar pros lados. Porque, no fundo, os olhos que me fitam carregam a preposição errada. Eles olham PARA mim, e não POR mim.
Escolho meu próximo tipo de passo, tento mudar minha condição de objeto direto para sujeito, e continuo pensando nos meus verbos sem predicado.
Friday, November 20, 2009
Mundo imaginário
O primeiro senso é a fuga. Essa é uma frase de uma das músicas do Teatro Mágico. Conheço muita gente que não gosta do grupo, e eu respeito, mas temos que concordar que as letras do Fernando Anitelli são geniais. Eu sou uma pessoa das palavras mais do que das melodias. Talvez porque goste tanto delas, elas colam em mim. E a esse fato acabam me atribuindo uma memória fora do comum. Não é isso. Eu dou atenção às palavras, observo, escuto, gravo e reproduzo.
E essa frase do OTM é uma das zilhões que me tocam, que eu gostaria de ter escrito e acabo adotando como um bicho de estimação. Alimento, cuido, sorrio ao ouvi-la tantas vezes for. Porque é verdade. Pelo menos o é em mim. O meu primeiro senso, sempre, é a fuga. Todos os dias eu quero fugir, durante vários momentos, pra meu mundo imaginário. Lá, eu só faço o que gosto, no tempo que não corre, com as pessoas que eu escolhi. Lá os sorrisos são sinceros e os elogios também. O olhar é curioso, o toque não tem pressa, e o dia amanhece mais tarde e entardece mais cedo.
No meu mundo imaginário, eu não busco o tempo nem o maldigo. Eu sou o tempo. As coisas acontecem na cronologia do meu desejo. Avançam, retrocedem, pausam. Pra lá eu não carrego carteira nem roupas apertadas. O meu cabelo é sempre liso e a minha pele tem a cor de três verões. Sou mais alta e isso nem importa de fato. O que me fascina é que lá eu carrego em mim tudo que este mundo em que vivo me furta.
Tenho uma voz que encanta e canta todas as canções que eu calo. A fuga é voz, é a palavra que dessa garganta não sai, é a poesia que não faz parte do meu imaginário. Porque a minha poesia é um portal entre os meus mundos. Minhas palavras em verso são o meu manifesto de realidade. Não há qualquer senso lúdico no que eu escrevo. Eu vivo de fato o que verso, mas não verso o que imagino.
O que imagino é meu, universo não-compartilhado. Eu sempre venço no final. Eu sou a mocinha. Não há bandidos. Não há rancor, ódio, inveja ou dedão sem a unha do pé. Vocês deviam ter a chance de me conhecer neste meu mundo. Sou bem mais interessante porque sou eu, ali, longe do panóptico. Uma mulher de nome diferente, mas igual a todas as outras.
Monday, November 9, 2009
Sweet Jardim
Como um brotinho de feijão foi que um dia eu nasci,
Despertei cai no chão e com as flores cresci.
E decidi que a vida logo me daria tudo
Se eu não deixasse que o medo me apagasse no escuro.
Quando mamãe olhou pra mim, ela foi e pensou
Que um nome de passarinho me encheria de amor
Mas passarinho se não bate a asa logo pia
Eu que tinha um nome diferente já quis ser Maria
Ah, e como é bom voar
Passarinho - Tiê
Tuesday, November 3, 2009
"A Bahia é linda"
Praia de Vilas
Passei o feriado em Salvador. Três meses que não voltava à cidade, e dessa vez foi bem especial. Primeiro porque encontrei meus pais, e depois porque aproveitei a cidade com amigos sergipanos, uma anfitriã eterna e um amigo recente que veio das terras pernambucanas. Nenhum roteiro planejado, mas todos deram certo.
Arnaldo na Concha Acústica, em Salvador.
Em dois dias consegui ir à exposição da Sophie Calle - Cuide de você (vai ter post único, lógico!), ao show do Arnaldo Antunes, mais pop do que nunca e arrasando no palco; conhecer a praia de Vilas e decidir que eu quero acabar minha vida lá (pelo menos até conhecer outro lugar mais legal); e de quebra, compor um repente que vai ser sucesso no próximo verão.
Eu e o mar do Rio Vermelho (foto: Mel Warwick)
Ouvir e ver o mar do Rio Vermelho de madrugada é inspirador. Mas talvez o momento mais marcante foi a volta, guiada pela lua imensa de cheia, iluminando a estrada. Não pude fotografar porque estava dirigindo, mas da memória não sai. E ainda ao som de Ben Harper. Ironicamente, ele cantava "She's only happy in the sun". É, leonina que sou e me mantenho, sou regida pelo Sol, mas a lua me fascina também. E essa lua, então, me fez discordar do Ben, que eu admiro e respeito.
Sempre gostei de admirar a lua porque eu a sinto como um ponto de encontro. Quando a miro, sei que muitas pessoas fazem o mesmo. Fico imaginando que aqueles de quem eu gosto, mas que estão distantes, estão olhando pra ela, e ali nos encontramos.
Enfim, adorei estar na Bahia e reencontrar amigos que não via há algum tempo (Mari e Flávia), e curtir com outros, "llenos" de energia boa (Mel, Vini, Patrícia). É isso que a gente deve valorizar na vida. Estar com pessoas legais, rir bastante, conhecer novos lugares (mesmo que você já tenha ido à cidade 987 vezes), ouvir uma boa música e contemplar os presentes do universo.
Tô com fome (horário de almoço), e não consigo evoluir muito por aqui. Depois vou fazer um post sobre a exposição da Sophie. Beijo!
Monday, October 26, 2009
Sobre posts que quero fazer
Life is a gury eyed, heavy hearted, whirlwind of a storm
Something they just hurt too much to cry
Memories are like shadows, the light won't make them disappear
So I still see you smiling with your eyes
So did you go back from where you came
If I get there, if they have my name
If they don't I'll only have myself to blame
For all these things
True happiness is having wings
Having Wings - Ben Harper
Tenho dois posts que pretendo fazer quando estiver menos cansada. Um é sobre mulheres que moram sozinha e outro é um conto que ando escrevendo, mas que travei na melhor parte.
Já é tarde da noite e eu preciso dormir. Quis postar esse vídeo da música "Having Wings" do novo álbum do Ben Harper porque hoje comecei a prestar atenção nesse álbum que eu já tinha gravado há mais de um mês. E essa música me tocou. Nenhum comentário especial, apenas uma dica e um convite para que baixem ou comprem o álbum.
Queria fazer um post também sobre "Bastardos Inglórios" do Quentin Tarantino, mas temo não saber explicar o que senti. Achei o filme sensacional. Gostei de tudo mesmo, só queria que o Tarantino deixasse um pouco de lado o fascínio pelas loiras e viesse no próximo filme com uma morena a la Pulp Fiction. Eu prometo que vou juntar essa obsessão de Quentin com o filme "Os homens preferem as Loiras", de Howard Hawks, que eu assisti esse final de semana, e fazer um post.
Já tenho muitos temas. É que hoje é uma segunda com cara de domingo, e eu estou sem saco. Procrastinar é um verbo que atormenta não só pela pronúncia e pela grafia. MAs eu sigo procrastinando... ;-) Boa semana!
Thursday, October 22, 2009
Lençois I: Seu Cori
Seu Cori, 82 anos, garimpeiro da Chapada Diamantina. Hoje, memória viva e paciente do auge da caça aos diamantes na região baiana. Uma graça, um vozinho. Com a sua simplicidade e paixão pelo ex-ofício, construiu um museu em sua casa. Parada obrigatória em Lençois.
Peça para ver a simulação do processo de garimpagem. E ouça atento a história de como ele conheceu Dona Maria, sua esposa há 50 anos, no tempo em que o amor ainda era um sentimento pacientemente construído.
Vivi muitos momentos intensos em Lençois e, aos poucos, no tempo de maturação das fotos, vou descrevendo aqui.
Foto: Kadydja Albuquerque
Lá no Beco...
Amanhã (sexta 23) acontece mais uma programação da Sexta no Beco, uma iniciativa do recém-formado Coletivo do Beco, que reune artistas e entusiastas da cultura sergipana em prol da revitalização do Beco dos Côcos, um local que até pouco tempo era cenário de prostitutas e usuários de crack.
Estou muito entusiasmada com esse movimento. É maior do que a apropriação de um lugar no centro de Aracaju. É uma prova de fôlego da cena cultural sergipana. E eu torço mesmo para que dê certo e que o beco vire o coração cultural da cidade.
Estive lá na sexta passada e fiquei impressionada em ver como o local está mudado. E como a receptividade ao projeto está sendo grande. Vejo cada vez mais que a fórmula é uma cena cultural engajada trabalhando em parceria com o poder público. Este, concentrado em construir uma política cultural sólida e que estimule a diversidade cultural do nosso estado. Aquele, articulado em criar um novo cenário de efervescência, sem a timidez e a desagregação que muitas vezes vemos. É preciso ousar, experimentar e se mostrar.
Sonho com um Sergipe que se aproprie e se orgulhe da sua cultura, que não se venda às festas pré-fabricadas da Bahia e que, sobretudo, experimente e se alimente de todas as referências culturais, de todos as nossas manifestações.
Não há mais espaço pra justificativa de que em Sergipe não tem público pra isso ou aquilo. Há sim. E se ainda não é um público maduro, é uma questão de tempo. E o projeto/movimento do Coletivo do Beco é mais um passo. Parabéns a todos que estão engajados nesta caminhada. Ganha o Beco, ganhamos nós, ganha a cultura do nosso estado.
Dona Nadi: do tamanco ao canto da Mussuca
Esse perfil eu fiz em agosto, mas nunca postei aqui no blog. Apenas no Overmundo. Nem sei porquê... lá vai.
Em uma manhã de sábado, ela nos recebe com um sorriso no rosto em sua casa simples de quatro cômodos. Chegamos sem anunciar, mas Maria Nadi dos Santos, 62 anos, não se intimida e logo articula sua prosa fácil, extensa e musicada. É uma mulher apaixonada pelas memórias de sua vida e pela cultura de seu povo. Conhecida como Dona Nadi (sem o erre mesmo) e reconhecida como mestre da Cultura Popular sergipana pelo Ministério da Cultura, há décadas luta pela preservação cultural do povoado Mussuca, uma comunidade quilombola situada no município de Laranjeiras, a 23 quilômetros de Aracaju, capital sergipana.
Dona Nadi não nos recebeu sozinha. Estava com seu companheiro de quatro anos, Visconde, auxiliar de necropsia do Instituto Médico Legal de Sergipe, e fã caracterizado de Raul Seixas. “A primeira vez que eu o vi foi na TV, no programa de Bareta, e depois a gente se encontrou no bar de Marizete num dia como esse. No domingo era festa de Lambe-Sujo”, conta sorridente, enquanto fazia um gesto para que ele baixasse o som, que tocava “Metamorfose Ambulante”. “Ele trabalha com morto, mas eu não tenho medo. Medo mesmo tenho dos vivos. Ele é feio, é tudo, mas eu gosto dele”, declara em outro momento.
Foto de Lúcio Telles
Entre um passeio e outro pela memória, Nadi cantava uma de suas músicas ou relembrava canções do seu pai, José Paulino dos Santos, compositor, instrumentista e figura de frente do São Gonçalo, uma das manifestações folclóricas do povoado. Hoje, ela canta no Grupo do Samba de Pareia da Mussuca, manifestação folclórica única de Sergipe.
O Samba de Pareia foi criado como um ritual para celebrar o nascimento de um bebê no quilombo. Com tamancos de madeira, que para os negros simbolizavam a liberdade frente aos brancos, mulheres sambam e rodam em parelha, enquanto a banda toca e canta canções que falam de libertação e de afirmação da cultura de seu povo. Ainda hoje, os moradores da Mussuca comemoram a chegada de uma criança com o samba, a meladinha (cachaça com mel de abelha, arruda, canela e cebola branca) e o Rabo de Galo (vinho com cachaça), sempre no 15º dia de nascida. Comemoram também aniversário dos componentes do grupo, que hoje são 24.
Dona Nadi começou a sambar cedo, aos 12 anos, quando seu pai a levava para as comemorações das noites de São João. “Todo ano a festa era em uma casa. Começava às 9h da noite e terminava às 6h da manhã. Tinha samba em junho inteiro. Hoje só na noite de São João”, lamenta. Quando perguntada sobre o dom de cantar, ela não hesita: “toda vida eu gostei (de cantar). É a minha alegria, tudo entoa”.
Ela é analfabeta, mas a barreira da escrita não limita a sua criatividade. Nadi gosta de compor músicas, como o seu pai, que escreveu uma das canções mais famosas nas festas da Mussuca – “Trem Baiano”. “Não sei como faz para compor. O que vem na cabeça eu coloco. E dá certo né¿!”, solta a risada larga. Dá. No dia 8 de julho deste ano, nas comemorações da Independência do Estado de Sergipe, Dona Nadi foi agraciada com a Medalha do Mérito Cultural Tobias Barreto, que recebeu das mãos do governador Marcelo Déda. “Coloquei ele pra sambar. E sambei também”, conta.
Mãe de 10 filhos e avó de 26 netos, Nadi nem sempre teve a vida preenchida pela Cultura, embora nunca tenha deixado de amar e respeitar as raízes de seu povo. Durante 20 anos viveu um casamento que a afastou do que mais gosta de fazer: lutar pela preservação das manifestações folclóricas do povoado. O passado foi enterrado e ela mergulhou na sua missão. Atualmente, além do grupo de Samba de Pareia, ela participa do São Gonçalo; é líder do Reisado de Dona Nadi; e tem um grupo de teatro chamado Drama.
Vaidosa? Só quando sai de casa, diz. O cuidado em manter o cabelo preso com uma faixa florida, os anéis e o colar de proteção contradizem. No momento em que entra a neta Joana Carla, ela insinua a sucessão na família e exibe um pouco da sua vaidade. “Ali (mostra a menina) é mesmo que eu”, afirma com a certeza de que a pequena vai seguir os passos da avó.
Ela tem consciência de que a memória precisa ser preservada não apenas pela entrada dos novos. Um sonho de Dona Nadi e de todos os mestres da cultura em Laranjeiras é ter uma Associação. “A gente precisa para poder receber pessoas como vocês, colocar fotos, mostrar nossa história”. E ela sabe do que está falando. Recebe muitos jornalistas, pesquisadores, curiosos em geral. Não faz muito tempo, quatro argentinos estiveram em sua casa. Sem titubear, mandou a primeira pergunta: “Vocês, quando vieram da Argentina, estavam de máscara¿”, ri. “Barrei mesmo na porta de casa, mas depois deixei entrar”.
Em seu repertório de canções, não há apenas a cultura popular. Nadi é fã de Amado Batista, Roberto Carlos, Carmen Silva, e um dia até gostou de Michael Jackson. “Gostava dele enquanto era negro. Depois que tomou produto pra ficar branco, sai pra lá!”, conta. Forró Eletrônico¿ Nem pensar. “Forró é o pé-de-serra. Aquilo deveria se chamar outro nome, como Xamego”, sugere.
Entre os artistas sergipanos, seus preferidos são Cremilda e Josa, o Vaqueiro do Sertão, ambos também receberam a Medalha do Mérito Cultural Tobias Barreto, no dia 8 de julho deste ano. “Cremilda tem a voz e o ritmo do forró seguro”, afirma. O olhar fica distante mais uma vez, sempre para consultar a memória e puxar uma canção. E assim, entre a cultura e o cotidiano, Dona Nadi vive livre a sua aposentadoria, depois de décadas como funcionária pública da Prefeitura de Laranjeiras. Um exemplo da garra de um povo que tem como valor maior a sua identidade cultural.
“Não posso deixar o samba morrer, né?”.
Texto: Kadydja Albuquerque
Fotos: Lúcio Telles
Colaborador: Dudu Prudente
Wednesday, October 21, 2009
Você sabia? 3.0
Só pra reforçar o post que eu fiz sobre as redes sociais. Tempos exponenciais.
U2, eu, você e as redes sociais
Eu nunca fui tão fã do U2, mas estou pensando em reconsiderar esse meu estranhamento quase sem motivo depois que fiquei sabendo que a banda vai transmitir o último concerto da sua turnê 360º via Youtube neste domingo, 25. É uma iniciativa inédita no showbusiness e demonstra, cada vez mais, que a aproximação com os fãs ou um público potencial através das redes sociais não é apenas um artifício da cena independente.
Sim, porque os ambientes 2.0 cresceram frente à uma demanda de liberdade de expressão e de criação de espaços para publicar uma produção que não encontrava vazão em uma indústria cultural fechada. Agora essa indústria cultural percebe a força das redes sociais e se apropria dela, seja para descobrir novos nomes, seja para promover artistas consolidados. Hoje em dia isso é mais visível no campo da música, mas é preciso que outras linguagens também se desenvolvam através das redes e saiam do gueto virtual, que acaba refletindo o gueto físico, como é o caso da literatura.
Eu sou uma entusiasta das redes sociais. Uso diariamente, tenho perfis em todos os sites, e acho bobagem essa história de que a pessoa precisa dosar a sua participação em ambientes 2.0. O ser humano sempre procurou espaços para se expressar, mesmo antes de existir os blogs, pioneiros no surgimento dos "prossumidores" (produtores e consumidores), e mais recentemente o Orkut, Twitter, My Space, Facebook, e lá vai...
Sou a favor de que é preciso se expressar. Seja pra falar do seu dia, do seu animal de estimação ou ainda tentar dizer coisas inteligentes ou divulgar o que anda produzindo. A internet é um ambiente de consumo ativo. Eu leio, ouço e assisto o que eu quero, e assim acontece com todos os internautas. Desligue a TV e ligue o computador. Tenha a liberdade de escolha sobre o que acessar e o que escrever.
Com as redes sociais, a globalização transcende o viés puramente econômico de consumo e relações internacionais, e se consolida enquanto apropriação cultural. Mas o fenômeno não é tão simples assim. Mesmo em contato com o mundo através da internet, continuamos, e isso é cada vez mais forte, com a necessidade de pertencer a grupos. É a tribalização do global, é o "glocal". É legítimo.
E como toda ferramenta, é apenas o meio. O que me fascina é que as pessoas têm tanto a dizer, a mostrar, a consumir, e a Internet é o grande palco. Claro que grande parte dos internautas reproduz um perfil de navegação que acaba sendo condicionado, mas isso é fruto de uma característica inerente aos seres humanos de se deter ao que é popular, de não perder muito tempo com o desconhecido. Ainda assim, estar conectado é essencial. Estar conectado é viver as potencialidades que o ciberespaço te dá. É o tal do atual sempre à espreita.
E eu sou um produto disso. Sou uma imigrante digital e encontrei espaço para expressar o que sai de mim, e conhecer muito mais do que me oferecem as estantes das livrarias, os canais da TV a cabo ou ainda as emissoras de rádio ou lojas de CD. E como eu, tantos outros saíram da condição de consumidores passivos. E além de nós, tantos outros podem e devem ter acesso à Internet quando a inclusão digital for mais do que cursos de informática e telecentros. Eu acredito nesse momento e o Bono Vox bem que podia abraçar a causa.
Sunday, October 18, 2009
Espelho de sonhos
No alto, a estrela distante
brilha com todos os meus sonhos
porque já transbordam de mim.
Reluz como sempre são os meus sonhos,
espelho em rostos distintos,
e uso as mesmas fúteis palavras
para o que nem sei se sinto.
Se não sei sentir, por que tentar?
Se vivo a tentar, por que insisto?
Confundo um sonho, um rosto,
e esse alto e distante coração,
amarelo como a estrela
ou como em um poema de Neruda,
sangra reticente e tolo.
Antes, não houvesse céu e estrelas.
Antes, estivesse morto.
Kadydja Albuquerque
brilha com todos os meus sonhos
porque já transbordam de mim.
Reluz como sempre são os meus sonhos,
espelho em rostos distintos,
e uso as mesmas fúteis palavras
para o que nem sei se sinto.
Se não sei sentir, por que tentar?
Se vivo a tentar, por que insisto?
Confundo um sonho, um rosto,
e esse alto e distante coração,
amarelo como a estrela
ou como em um poema de Neruda,
sangra reticente e tolo.
Antes, não houvesse céu e estrelas.
Antes, estivesse morto.
Kadydja Albuquerque
Tuesday, October 6, 2009
A insônia e o coração-alarme
"I'm discontented with homes that I've rented. So I have invented my own" - by Pink Martini (feat Jimmy Scott) / Tea for two
Tenho insônia e meus gatos dormem. Não é uma falta de sono por excesso de preocupação, ou de estresse, ou de tristeza. Nada disso me faz despertar. É insônia de quem tem a alma fervilhando de possibilidades. Aprendi a gostar de ter esses momentos só meus no avançar da madrugada: boa música, leite com chocolate e uma tela em branco.
Dá pra pensar na vida, pra reprojetar a vida, pra deixar que a vida aconteça. Esse é um problema contemporâneo: as pessoas não esperam mais que a vida aconteça. Somos programados dentro de uma rotina diurna e vamos dormir frustrados porque não conseguimos fazer todos os deveres dos outros e pros outros. Adormecemos mais incompletos ainda porque não conseguimos parar para refletir sobre nós mesmos, ou assistir aquele filme, continuar a leitura de um livro ou ainda ficar mais tempo com os seus.
Não esperamos mais que a vida aconteça porque vivemos em um mundo apressado. Tudo é um teste de competência, de habilidade, de dinamicidade, de limite pessoal. Precisamos nos mostrar sempre conectados, atualizados, rápidos, múltiplos, submissos, solícitos, e não importa o que você de fato é. Você precisa apenas ser algo interessante para o outro.
Bullshit. Gosto sempre de observar os meus gatos e aprender com eles. É engraçado que sempre quando estou estressada ou triste, algum deles vem até a mim e fica me encarando com cara de superioridade. “Você é uma boba”, até ouço eles dizerem. E é isso mesmo. Somos todos bobos à procura do que não nos preenche, sempre com essa mania suicida de racionalizar tudo.
Acredito que racionalizar é importante em alguns momentos da vida, mas nada substitui a voz do coração. Quem exercitar um pouco essa ligação, vai saber utilizá-lo como uma bússola que te mostra o que é certo, o que é errado, o que não frutifica, o que apodreceu. O meu coração não é uma bússola e sim um alarme enjoado que soa sempre. E isso me faz entrar em conflito constante com o que eu sou e o que eu sei que eu deveria ser. Complicado¿ Eu diria intrigante.
E assim é o coração de toda pessoa. Ele sempre fala melhor à noite, a essa hora. Agora, por exemplo, enquanto eu escrevo e ele soa me anunciando um mundo bem mais interessante pela frente.
Drummond
Desde o meu primeiro contato com Carlos Drummond de Andrade, eu me apaixonei por ele. É o meu poeta querido entre todos que eu venero. Drummond tem cara de vozinho. Um fofo. Seus versos cortam, afagam, emocionam, causam perplexidade aos aspirantes da poesia como eu.
Estava navegando pelo site Colherada Cultural (que indico veementemente!) e encontrei uma notícia sobre a criação de um site sobre o poeta pela editora Record > http://www.carlosdrummonddeandrade.com.br. Indico e sugiro que naveguem sem pressa.
A hora do cansaço
1984 - CORPO
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Estava navegando pelo site Colherada Cultural (que indico veementemente!) e encontrei uma notícia sobre a criação de um site sobre o poeta pela editora Record > http://www.carlosdrummonddeandrade.com.br. Indico e sugiro que naveguem sem pressa.
A hora do cansaço
1984 - CORPO
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Sunday, October 4, 2009
ELA
Quando ela acredita,
as nuvens se dissipam
negras,
tal um grão de areia
açoitado pelo vento.
Quando ela grita,
os passarinhos calam
livres,
tal o tamanho da fé
tal o peso do lamento.
Quando ela sorri,
as flores desabrocham
coloridas,
tal é a sua leveza
de viver todo momento.
Quando ela acredita,
ela grita,
e depois sorri.
Primeiro a fé,
depois o lamento.
Lá, dentro,
sempre reside a leveza
aos olhos atentos.
Kadydja Albuquerque (04.10.2009)
Foto: Central Park - NYC (agosto 2009)
Saturday, October 3, 2009
Fé
Fé. Duas letras e carregam a força de todo alfabeto. Fé não se pega, não se mede, não se oferece. Está aí, de graça, para quem quiser senti-la. Eu todos os dias cuido da minha fé, como cuido dos meus gatos e do meu cabelo. É parte de mim e não me imagino sem ela. A vida já é árdua demais quando acreditamos no que nos move e nos condiciona a situações boas ou ruins; e seria mais difícil ainda sem ela.
Hoje acordei e li um salmo de São Paulo: “... esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Verdade. Não é preciso acreditar em Deus ou em seres encantados para crer que o desapego ao passado, a serenidade em relação ao presente e a confiança diante do futuro é o que te faz conseguir aquilo que deseja. E essas atitudes se sustentam na fé em si, no outro, naquilo que é abstrato.
Eu acredito em Deus. Acredito nas forças do universo. Acredito em mim e nos outros. Por muito tempo tentei entender o que não se deve. Entender não é o verbo melhor. Estou incorporando outro a minha vida: ser. Não é fácil. Somos seres curiosos, queremos respostas para perguntas que só nos machucam, queremos nos encaixar em padrões. E as respostas da vida não são dadas como em uma entrevista ping-pong. Elas demoram ou elas nem surgem. Nos dois casos há um único motivo: a resposta está em você.
A fé está em você. A festa está em você. O universo é você porque ele é seu. E aí não tem pra onde correr. Só há um caminho: o autoconhecimento. E esse caminho é duro, muitas vezes negro, revelador. É preciso querer se revelar. Eu já não sei se estou falando de fé ou de caminho. Acho que dos dois. Fé e caminho são almas gêmeas. A chave talvez seja o desapego ao resultado, ao fim da caminhada, ao que vamos encontrar.
O outro está sempre ali, à espreita, a provocar nossos sentidos. E nós deixamos porque é muito entediante viver apenas em si. O autoconhecimento não pode ser isolamento. E é na permissão da entrada do outro em nossas vidas que nossos átomos se inquietam, que surgem os ruídos na alma, os julgamentos de postura, os confrontos de essência.
E pra viver e ser com tudo isso é preciso ter fé. A fé que cantam os músicos, que escrevem os poetas, que rezam os religiosos, que negam os ateus, a que recorrem os desafortunados. É a mesma fé e nunca é a mesma. É o anoitecer em silêncio, a presença distante das estrelas, a vitória que vence o mundo, o ópio do povo, a única saída.
Fé. Duas letras e carregam o sonho de uma humanidade.
Foto: St Patrick's Cathedral - NYC.
Friday, October 2, 2009
Enjoo
Eu acho que estou passando por uma crise criativa. Ou melhor, por um enfrentamento de essência. Sempre que eu tento escrever um texto corrido, um conto, uma crônica, um devaneio qualquer, eu me esbarro em versos. Cansei de versos. Mania chata de querer colocar a vida em estrofes.
Eu nunca tive métrica. Acho a rima algo escorregadio. Eu só queria escrever um texto banal sobre a minha vida, o meu dia, meu ano, meu mês. Comentar o meu horóscopo ou minha jornada de trabalho. Falar sobre um show que eu assisti ou um programa de final de noite com amigos. Queria que esse meu blog fosse mais leve, mais atualizado, mais lido, mas tudo.
E no entanto, não quero escrever sobre nada disso. O que eu tenho de interessante pra dizer que as pessoas queiram acompanhar? Vou ser mais uma que opina sobre as Olimpíadas, o Pré-sal, o último clipe da Madonna, ou a tsunami na Indonésia. Eu não. Eu queria mesmo escrever algo que não fosse sobre mim, mas que não tivesse 75 milhões de pessoas opinando.
Queria escrever uma nova versão da Hora da Estrela. Tenho tantas mulheres dentro de mim e não consigo transformá-las em personagens. Será porque eu não percebo o mundo do qual eu faço parte? Ando sem referências, e ao mesmo tempo com tantas histórias que me provocam, mas que fogem de mim quando estou em frente à tela branca.
Acho que eu cansei de ser eu, assim, versada. Será? Tava demorando.
Ou pode ser só um surto de sexta-feira à noite.
Eu nunca tive métrica. Acho a rima algo escorregadio. Eu só queria escrever um texto banal sobre a minha vida, o meu dia, meu ano, meu mês. Comentar o meu horóscopo ou minha jornada de trabalho. Falar sobre um show que eu assisti ou um programa de final de noite com amigos. Queria que esse meu blog fosse mais leve, mais atualizado, mais lido, mas tudo.
E no entanto, não quero escrever sobre nada disso. O que eu tenho de interessante pra dizer que as pessoas queiram acompanhar? Vou ser mais uma que opina sobre as Olimpíadas, o Pré-sal, o último clipe da Madonna, ou a tsunami na Indonésia. Eu não. Eu queria mesmo escrever algo que não fosse sobre mim, mas que não tivesse 75 milhões de pessoas opinando.
Queria escrever uma nova versão da Hora da Estrela. Tenho tantas mulheres dentro de mim e não consigo transformá-las em personagens. Será porque eu não percebo o mundo do qual eu faço parte? Ando sem referências, e ao mesmo tempo com tantas histórias que me provocam, mas que fogem de mim quando estou em frente à tela branca.
Acho que eu cansei de ser eu, assim, versada. Será? Tava demorando.
Ou pode ser só um surto de sexta-feira à noite.
Sunday, September 20, 2009
Sky falls
Sábado à noite em casa + TPM + Retorno de Saturno dá nisso.
Sky Falls
A noite acontece em mim.
Só ela, nua e crua
com suas estrelas.
Oh noite, não te quero.
Quero o dia e sua sinfonia.
Quero o dia até com meia dúzia de nuvens.
Suporto todas as nuvens,
se claro for o azul do céu.
O que já não sustento
é essa escuridação, negra noite.
É esse desalento.
Sky falls
and my eyes, dark balls.
Kadydja Albuquerque
Faz sentido? Nem eu entendo. Acho que ando em uma fase de composição confusa, mas eu deixo fluir. Nenhum sentido vence coisa alguma.
Foto: Fernanda Valeriano.
Sunday, August 9, 2009
Pai
Você me aceitou em sua vida
como um presente, fruto de amor
de um amor que não se finda
e eu fui crescendo a sua semelhança
silêncio, calma, cética
boba, coração gigante, alma nômade.
Pelo destino, eis um amor imposto
que aceito e agradeço todos os dias
um porto, tão seguro que me faz ter medo
de perdê-lo.
Talvez eu não seja a melhor das filhas
mas você é o melhor de mim.
Meu pai. Meus olhos. Minha certeza.
Minha ausência. Minha saudade.
A ti, meu infinito amor.
Meu coração teimoso.
Pai, Feliz Dia! Mais uma vez longe... que filha é essa hein? Mas dia 21 está chegando e vamos comemorar Dia dos Pais, das Mães, aniversários e tantos feriados na Big Apple. Prepare-se para as fotos de orkut.. kkkkk. Contando os dias...
Saturday, August 8, 2009
Vaza!
#forasarney!
Não sou de fazer posts políticos, mas resolvi aderir à mobilização virtual como uma boa brasileira.
A Casa das Coisas que não se dizem
Tudo que, em mim, é palavra,
vontade de não ser bicho,
mora na minha casa das coisas que não se dizem.
Por isso é que eu falo pouco
e se crê que eu tenha Mistério
porque minha voz- se me a ouvissem -
ela é de lodo e de lama.
Mas na casa das coisas que não se dizem
moram poemas e abraços muitos,
livres, lindos
e cuidados e carinhos.
Foi na casa das coisas que não se dizem, inclusive,
que eu gostei das palavras
e que eu inventei essa brincadeira
delas ficarem bobas.
As coisas que não se dizem sempre moraram em mim,
nessa casa,
de onde,
indagora,
fugiu
esse quase um eu te amo.
(A Casa das Coisas que não se dizem - Michel Klejnberg)
Nenhum livro me impressionou tanto este ano quanto este.
Poesia ou profilaxia?
vontade de não ser bicho,
mora na minha casa das coisas que não se dizem.
Por isso é que eu falo pouco
e se crê que eu tenha Mistério
porque minha voz- se me a ouvissem -
ela é de lodo e de lama.
Mas na casa das coisas que não se dizem
moram poemas e abraços muitos,
livres, lindos
e cuidados e carinhos.
Foi na casa das coisas que não se dizem, inclusive,
que eu gostei das palavras
e que eu inventei essa brincadeira
delas ficarem bobas.
As coisas que não se dizem sempre moraram em mim,
nessa casa,
de onde,
indagora,
fugiu
esse quase um eu te amo.
(A Casa das Coisas que não se dizem - Michel Klejnberg)
Nenhum livro me impressionou tanto este ano quanto este.
Poesia ou profilaxia?
Mimo do tempo
Como é tolo o coração de uma mulher.
Ingênuo e pleno de fantasias banais,
Afogado em memórias nunca existidas
Das mais perfeitas investidas
Do menos perfeito rapaz.
O coração de uma mulher só não é mais bobo
Que seus gestos ansiosos
Que seus olhares pagãos
Que sua boca seca e escancarada
Diante do paliativo da solidão.
Afinal, de que adiantaria ser lúcida
Se toda graça da mais boba mulher
está em acreditar
que o mais excitante futuro
não é taquicárdico, é seguro?
E que isso tudo é apenas um mimo
... do tempo.
Kadydja Albuquerque
Poesia não se explica. Nem se decifra. Sente-se. O que eu escrevo é exercício de pacificação. Tentativa “bonitinha” de organizar em palavras a confusão de tantos sentimentos. Amo, odeio, desejo, repudio, choro, rio, brinco, travo, construo castelos suntuosos, e me escondo em cabanas de palha.
Não tenho conserto. Vou ser assim pra sempre. E porque eu quero, porque preciso desse frio na barriga, desse olhar catatônico que às vezes me pego fazendo na janela. Janela física, com rede, que dá pra um céu que sempre me acalma. As minhas janelas abstratas também acabam em um céu imaginário. Nele, é sempre dia. É sempre verão.
O que há no céu que tanto me fascina¿ Deve ser a imensidão. O azul. O céu como a pintura mais fiel do infinito, como o mimo do tempo tentando controlar a minha ânsia de amanhãs . Olhar para o céu e ver movimento. Perceber o redondo ciclo da vida, das estações do ano, e sentir que minha alma acompanha, integra esse universo, alterna calor, alegria, tristeza, solidão, esperança, desalento.
O que há no céu, há em mim. Há em qualquer um.
Ingênuo e pleno de fantasias banais,
Afogado em memórias nunca existidas
Das mais perfeitas investidas
Do menos perfeito rapaz.
O coração de uma mulher só não é mais bobo
Que seus gestos ansiosos
Que seus olhares pagãos
Que sua boca seca e escancarada
Diante do paliativo da solidão.
Afinal, de que adiantaria ser lúcida
Se toda graça da mais boba mulher
está em acreditar
que o mais excitante futuro
não é taquicárdico, é seguro?
E que isso tudo é apenas um mimo
... do tempo.
Kadydja Albuquerque
Poesia não se explica. Nem se decifra. Sente-se. O que eu escrevo é exercício de pacificação. Tentativa “bonitinha” de organizar em palavras a confusão de tantos sentimentos. Amo, odeio, desejo, repudio, choro, rio, brinco, travo, construo castelos suntuosos, e me escondo em cabanas de palha.
Não tenho conserto. Vou ser assim pra sempre. E porque eu quero, porque preciso desse frio na barriga, desse olhar catatônico que às vezes me pego fazendo na janela. Janela física, com rede, que dá pra um céu que sempre me acalma. As minhas janelas abstratas também acabam em um céu imaginário. Nele, é sempre dia. É sempre verão.
O que há no céu que tanto me fascina¿ Deve ser a imensidão. O azul. O céu como a pintura mais fiel do infinito, como o mimo do tempo tentando controlar a minha ânsia de amanhãs . Olhar para o céu e ver movimento. Perceber o redondo ciclo da vida, das estações do ano, e sentir que minha alma acompanha, integra esse universo, alterna calor, alegria, tristeza, solidão, esperança, desalento.
O que há no céu, há em mim. Há em qualquer um.
Tuesday, July 21, 2009
Neruda
Digam, isso não é lindo?
Para ler ouvindo:
this foolish things -
Si Tu Me Olvidas
Pablo Neruda
Quiero que sepas una cosa.
Tu sabes como es esto: si miro la luna
de cristal, la rama roja del lento otoño
en mi ventana, si te toco junto al fuego
la implacable ceniza o el arrugado cuerpo
de la leña. Todo me lleva a ti, como si
todo lo que existe, aromas, luz, metales,
fueran de pequeños barcos que navegan
hacia las islas tuyas que me aguardan.
Ahora bien, si poco a poco dejas de
quererme, dejare de quererte poco a poco.
Si de pronto me olvidas no me busques que
ya te habre olvidado. Si consideras largo
y loco el viento de banderas que pasa por
mi vida y te decides a dejarme a la orilla
del corazon en que tengo raices, piensa que
en ese dia, a esa hora levantare los brazos
y saldran mis raices a buscar otra tierra.
Pero si cada dia cada hora sientes que
a mi estas destinada con dulzura implacable.
Si cada dia sube una flor a tus labios
a buscarme, ay amore mio, ay mia, en ti todo
ese fuego se repite, en mi nada se apaga ni
se olvida, mi amore se nutre de tua amor,
amada, y mientras vivas estara en tus
brazos sin salir de los mios.
Para ler ouvindo:
this foolish things -
Si Tu Me Olvidas
Pablo Neruda
Quiero que sepas una cosa.
Tu sabes como es esto: si miro la luna
de cristal, la rama roja del lento otoño
en mi ventana, si te toco junto al fuego
la implacable ceniza o el arrugado cuerpo
de la leña. Todo me lleva a ti, como si
todo lo que existe, aromas, luz, metales,
fueran de pequeños barcos que navegan
hacia las islas tuyas que me aguardan.
Ahora bien, si poco a poco dejas de
quererme, dejare de quererte poco a poco.
Si de pronto me olvidas no me busques que
ya te habre olvidado. Si consideras largo
y loco el viento de banderas que pasa por
mi vida y te decides a dejarme a la orilla
del corazon en que tengo raices, piensa que
en ese dia, a esa hora levantare los brazos
y saldran mis raices a buscar otra tierra.
Pero si cada dia cada hora sientes que
a mi estas destinada con dulzura implacable.
Si cada dia sube una flor a tus labios
a buscarme, ay amore mio, ay mia, en ti todo
ese fuego se repite, en mi nada se apaga ni
se olvida, mi amore se nutre de tua amor,
amada, y mientras vivas estara en tus
brazos sin salir de los mios.
Monday, July 20, 2009
Rápidas de hoje
Aos meus amigos, desejo meu abraço forte e sincero. Abraço esse que eu não pude dar em vocês hoje. Andam dizendo que eu estou muito "cult", mas é isso, my felas, pouco tempo pra muito trabalho. Oc, Rod, Nandeeenha, Elô, Carol, Lula, Quico, ... saudadinhas de vocês. Não me sabotem. ;-)
******************************
Sábado fui, com meus amigos e colegas de trabalho, Lúcio e Dudu, entrevistar Dona Nadi, mestre da Cultura Sergipana, mulher de prosa extensa e risadas fáceis. Adorei conhecê-la. Adorei conhecer Visconde. Adorei mais ainda perceber que o que torna uma pessoa interessante é menos o que ela faz, e mais o que ela sente. Estou trabalhando no perfil. O segundo para o guia e o site Divirta-SE. Foto de Lúcio Telles (depois eu posto a minha tocando cuíca :-P).
***************************
Sim, Caetano provocou surpresa ao abrir o show de ontem com "Kuduro"; cantou "Sem Cais"; abriu os braços em "Lapa"; rebolou em "Eu sou neguinha"; repetiu a versão lindíssima de "Aquele frevo-axé"; e me fez chorar de novo ao encerrar o show com "Força Estranha". Não me canso.
Vou repetir um comentário que fiz em um texto sobre o novo álbum no Overmundo: "É isso, Caetano tem cacife para experimentar, inovar, renovar, sem se preocupar em agradar. Caetano é isso. Múltiplo e surpreendente. Ontem teve o show dele aqui em Aracaju e eu fui assistir pela segunda vez (a primeira foi na estreia do Canecão).
E foi interessante porque eu já estava "preparada" para a "porrada" que é assistir ao Zii i Zie ao vivo e em muitas cores. Só não foi mais emocionante que assistir no Rio, sendo sergipana, e vendo a reação dos cariocas diante de canções como Lapa, Falso Leblon, Perdeu, e suas projeções de fundo de palco.
Parabéns a Caetano por acompanhar a dinamicidade da cultura e suas apropriações; por não se deixar rotular; por exercer tão bem o desapego à forma e dar lugar à criação livre, aberta e sem medo das críticas".
Quinta-feira tem Orquestra Sinfônica com a renomada pianista Maria João Pires no Teatro Tobias Barreto. Vale muito a pena. É isso, ando muito cultura mesmo, mas como escreveu Shakespeare: "mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões".
***************************
E só um último comentário... o que é Cem anos de Solidão, do Gabriel García Márquez? Sim, leitura tardia, e sambando pra ler em espanhol. Mas eu não ia me perdoar se eu morresse e não lesse esse livro. Como eu não sei quando vou morrer, comecei logo. ;-)
******************************
Sábado fui, com meus amigos e colegas de trabalho, Lúcio e Dudu, entrevistar Dona Nadi, mestre da Cultura Sergipana, mulher de prosa extensa e risadas fáceis. Adorei conhecê-la. Adorei conhecer Visconde. Adorei mais ainda perceber que o que torna uma pessoa interessante é menos o que ela faz, e mais o que ela sente. Estou trabalhando no perfil. O segundo para o guia e o site Divirta-SE. Foto de Lúcio Telles (depois eu posto a minha tocando cuíca :-P).
***************************
Sim, Caetano provocou surpresa ao abrir o show de ontem com "Kuduro"; cantou "Sem Cais"; abriu os braços em "Lapa"; rebolou em "Eu sou neguinha"; repetiu a versão lindíssima de "Aquele frevo-axé"; e me fez chorar de novo ao encerrar o show com "Força Estranha". Não me canso.
Vou repetir um comentário que fiz em um texto sobre o novo álbum no Overmundo: "É isso, Caetano tem cacife para experimentar, inovar, renovar, sem se preocupar em agradar. Caetano é isso. Múltiplo e surpreendente. Ontem teve o show dele aqui em Aracaju e eu fui assistir pela segunda vez (a primeira foi na estreia do Canecão).
E foi interessante porque eu já estava "preparada" para a "porrada" que é assistir ao Zii i Zie ao vivo e em muitas cores. Só não foi mais emocionante que assistir no Rio, sendo sergipana, e vendo a reação dos cariocas diante de canções como Lapa, Falso Leblon, Perdeu, e suas projeções de fundo de palco.
Parabéns a Caetano por acompanhar a dinamicidade da cultura e suas apropriações; por não se deixar rotular; por exercer tão bem o desapego à forma e dar lugar à criação livre, aberta e sem medo das críticas".
Quinta-feira tem Orquestra Sinfônica com a renomada pianista Maria João Pires no Teatro Tobias Barreto. Vale muito a pena. É isso, ando muito cultura mesmo, mas como escreveu Shakespeare: "mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões".
***************************
E só um último comentário... o que é Cem anos de Solidão, do Gabriel García Márquez? Sim, leitura tardia, e sambando pra ler em espanhol. Mas eu não ia me perdoar se eu morresse e não lesse esse livro. Como eu não sei quando vou morrer, comecei logo. ;-)
Sunday, July 19, 2009
Quase 1
Quase sem inferno astral. Estou chegando aos meus 29 anos, deixando pra trás um ano difícil de muita faxina. Quase ano 1. Quantas reflexões, quantos momentos introspectivos, quantas apostas em coisas que não deram em nada. Quanto jogo de cintura. O meu mundo girando em várias direções e eu incapaz de dominá-lo. Agi como um barco deixando-se levar pela corretenza. Ano 9 é assim... alheio aos seus desejos. Tem vida própria, mas que no final só traz resultados positivos. Porque de tanto te calejar a alma, faz-te mais forte.
Hoje, se não fossem o meu inferno astral e a minha indignação diante de algumas coisas sem sentido ao meu redor, e que por vezes me fazem ficar triste, eu diria que sou uma pessoa mais decidida depois de um ano de montanha-russa. Hoje, me sinto livre, confiante do que eu quero em todas as áreas e quase sei como conquistá-las. Quase porque com as desventuras e aventuras, aprendi a canalizar a minha ansiedade de geniozinho forte e deslocado. Apenas uma questão de estratégia para viver melhor.
Aprendi que a maioria das pessoas é menos importante em nossa vida do que pensamos, e que o tamanho da fatia que reservamos a elas no bolo depende basicamente da nossa insaciável vontade de comer. Eu, por enquanto, ando sem cortar as fatias, mas nunca tive dúvidas do meu primeiro pedaço.
**************
Hoje tem Caetano Veloso com Zii i Zie aqui em Aracaju. Fui à estreia no Canecão e me emocionei diversas vezes. Espero que hoje seja igual. Dedos cruzados para que ele termine o show cantando Força Estranha. Já posso ouvir Caê cantando Sem cais ou ainda abrindo os braços ao cantar "Eis a Laaapa"... coisa boa é começar a semana assim.
Beijo para quem é de beijo. Abraço para quem é de abraço. E pra quem torce o nariz, procure ser feliz. :-P
Eu (estranhamente bem humorada em um domingo).
Hoje, se não fossem o meu inferno astral e a minha indignação diante de algumas coisas sem sentido ao meu redor, e que por vezes me fazem ficar triste, eu diria que sou uma pessoa mais decidida depois de um ano de montanha-russa. Hoje, me sinto livre, confiante do que eu quero em todas as áreas e quase sei como conquistá-las. Quase porque com as desventuras e aventuras, aprendi a canalizar a minha ansiedade de geniozinho forte e deslocado. Apenas uma questão de estratégia para viver melhor.
Aprendi que a maioria das pessoas é menos importante em nossa vida do que pensamos, e que o tamanho da fatia que reservamos a elas no bolo depende basicamente da nossa insaciável vontade de comer. Eu, por enquanto, ando sem cortar as fatias, mas nunca tive dúvidas do meu primeiro pedaço.
**************
Hoje tem Caetano Veloso com Zii i Zie aqui em Aracaju. Fui à estreia no Canecão e me emocionei diversas vezes. Espero que hoje seja igual. Dedos cruzados para que ele termine o show cantando Força Estranha. Já posso ouvir Caê cantando Sem cais ou ainda abrindo os braços ao cantar "Eis a Laaapa"... coisa boa é começar a semana assim.
Beijo para quem é de beijo. Abraço para quem é de abraço. E pra quem torce o nariz, procure ser feliz. :-P
Eu (estranhamente bem humorada em um domingo).
Sunday, July 5, 2009
Domingo Chato
É estranha essa sensação de precisar escrever e não saber o que dizer. Aqui dentro, tudo pede palavras, construções frasais que façam, que me tragam sentido. Mas a mente não me traz repertório. É um processo quase esquizofrênico de buscar o que dizer, simplesmente para aliviar essa sensação. Mas eu constato que, realmente, não tenho nada de importante para dizer neste momento. Nada.
Qualquer assunto que eu pense é bobagem. Não vale um sujeito, um verbo e um predicado. Muito menos um aposto. Que coisa chata. É isso, tudo anda chato neste momento. Deve ser meu inferno astral combinado com o final do meu ano nove, com o segundo ano do meu Retorno de Saturno e a minha TPM do mês. Essa conjunção deveria ser produtiva pra mim. Eu poderia enlouquecer de vez e ter tanta coisa a dizer. Ao contrário, não quero falar de mim. Enjoei desse exercício.
Talvez a saída seja criar histórias, personagens. Ou talvez seja não dizer mais nada e tentar terminar a pilha de livros que eu tenho aqui em casa. É isso, vou ler. Porque já tem muita gente escrevendo, construindo histórias, contando fatos.
E assim, vou esperando o 28 de julho chegar e acabar logo com essa sensação de desprezo pelo mundo.
Enquanto isso: ai, sãp.
Wednesday, June 24, 2009
Há.
Não há dor, só imensidão. Não há choro, mas lágrima velada. Não há túnel, há uma luz vacilante. Há céu, nuvem, calor. Sim, há muito calor. Há pressa, mas não há apelo. Há quase uma certeza, quase aquela coisa de sorte. Há uma coruja que sobrevoa. Ainda agora houve uma brisa. E um pouco de fé também sempre há. Se há cuidado, há mais carinho. Há pegadas, há caminho. Sim, há um belo caminho. Há lida, vida, recolhida. Não haverá partida. Há tanta chegada, há frio na barriga, e haja força. Haja força. Haja força. Há corpo, mas há limite. Há olhar, convite. Há história, geografia, matemática, português. Há vez. Há uma grandiosa vez. Há destino, crença, desatino, esconderijo. Há canção. Há um milhão de canções. Há tantas canções quanto pensamentos. Não há lamento. Não, não há recuo. Há coisas caladas, silêncio. Há sorrisos. E haverá gargalhadas. Houve choro, cara fechada. Há sabedoria agora. Uma sapiência miúda, rastejante, a conta gotas. Há novela na TV, e uma revista densa. Há tempo pra pensar, mas há mais ainda a vontade de dormir. Há saudade. Sim, haja saudade. Sempre haverá a saudade. Há você, eu, os outros. Há meus pais. Há o Chico Buarque e seu talento. Há aquela maldita canção de Chico. Há uma vela acesa e meus santos empoeirados. Há um São Francisco sem a pomba em seus braços. Há Iemanjá. Azul, em minha parede. Azul também há em um terço. Há um troço aqui dentro quando não velo reza. Houve vômito. Só não houve ainda o vômito final. Há ainda muita coisa aqui dentro. Há vida aqui dentro. Há batida. Há calor. E haja força, haja força. Há um bonsai morto em minha sala. Há preguiça, miado de gato. Há livros, tantos livros. Há solidão, mas não há dor. Só imensidão.
Kadydja Albuquerque
Kadydja Albuquerque
Monday, June 22, 2009
Desencanto
Manuel Bandeira
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Inevitável
Há sempre uma borboleta em todo jardim.
Ainda que não seja a mais bonita,
ou aquela que voe com mais elegância...
Há sempre uma borboleta em todo jardim.
Há inevitavelmente azul em todo céu.
Mesmo escuro pela presença das nuvens,
ou pela ausência do sol
Há inevitavelmente azul em todo céu.
Há no destino de todo pé um chinelo.
Mesmo roto ou novo,
de couro ou amarelo.
Há no destino de todo pé um chinelo.
E em todo voo, céu ou caminho
nuvens, chinelos, bichinhos
Em todas as coisas desse mundo,
reais ou abstratas,
Há o que não se farta: o amor.
Kadydja Albuquerque > 24.05.2009 (Versos publicados na exposição "Um a Um" de Melissa Warwick)
Foto by me: Namorados no Jardim Japonês / Buenos Aires (maio 2008).
Diquinha - Charlie Parker
Hoje eu voltei a ouvir minha pequena coleção de Clássicos do Jazz. E escolhi ouvir Charlie Parker, o Bird. Charlie foi um incrível saxofonista que junto com outros caras "fracos" como Miles Davis, Dizzy Gillepsie e Thelonious Monk lançaram ao mundo o Bepop, jazz moderno e cheio de improvisações. Não gente, eu não joguei no Google... eu gosto de ler mesmo sobre os músicos que me tocam. :-P
Enfim, ando sem muita coragem pra escrever. A vontade vem, mas não chega forte o suficiente para combater meu sono. Ainda mais quando eu coloco Bird pra tocar. Aí eu só quero ficar de olhos fechados e esperar que a noite me embale com bons sonhos. Sim, porque depois de um dia cheio como hoje, eu mereço bons sonhos no mínimo. E se eu puder escolher, quero sonhar com um lugar ensolarado, mas que não tenha tanto calor. Pode ser uma praia, e nesse praia, eu terei 10cm a mais, cabelo um pouco mais liso, um corpo bronzeado e um sorriso enorme. Eu vou encontrar só pessoas legais que vão me chamar pra seguir sorrindo pela vida e acreditando que ela não é tão traiçoeira e mesquinha assim como tenta me convencer a lida. No meu sonho o mundo vai girar mais rápido e eu vou acordar com aquela sensação de que tudo passa, tudo se renova, tudo acontece e que o importante é continuar andando em frente.
Bons sonhos também.
Monday, June 15, 2009
Quem sou eu 2
sou contradição
mas me reconheço
em nada e em tudo
nos dias de morte e de vida.
sou canção parida
para um filme mudo
com tantos gritos
quanto sorrisos.
sou lágrimas, alegrias
carências, tanta poesia.
sou fé e segurança
dia, noite,
uma ingrata mudança.
estou descoberta, alerta
sinto raiva, amor, fome.
sou amor
sou fome
sou difícil
como o meu nome.
sou torta,
como essa porta
essa estúpida porta
tão estúpida, idiota.
ah, como quero ser janela
ou pelo menos uma cortina
vilã, livre, famosa, cretina.
qualquer coisa eu sou
eu não ligo pra mais nada
vivo, assim, cansada
excitada, aliviada
por ser quem eu quiser.
Kadydja Albuquerque > 14.06.2009
mas me reconheço
em nada e em tudo
nos dias de morte e de vida.
sou canção parida
para um filme mudo
com tantos gritos
quanto sorrisos.
sou lágrimas, alegrias
carências, tanta poesia.
sou fé e segurança
dia, noite,
uma ingrata mudança.
estou descoberta, alerta
sinto raiva, amor, fome.
sou amor
sou fome
sou difícil
como o meu nome.
sou torta,
como essa porta
essa estúpida porta
tão estúpida, idiota.
ah, como quero ser janela
ou pelo menos uma cortina
vilã, livre, famosa, cretina.
qualquer coisa eu sou
eu não ligo pra mais nada
vivo, assim, cansada
excitada, aliviada
por ser quem eu quiser.
Kadydja Albuquerque > 14.06.2009
Sunday, June 14, 2009
Diquinha - Teus Olhos
música fofa para um domingo à tarde. :-)Adoro os dois.
K
Quero bem
Quero o bem,
o infinito
Quero o não dito
todas as frases
as canções que
passam pelas fases
do que somos
somado a tudo que nao foi.
Quero o riso
a pele, o gosto
Não quero esse desgosto
sua ausência, encosto
Quero o olhar
não consigo mirar
os olhos que não me procuram
não esbarram nos meus
no meio de tantos outros.
Quero a soma
do que foi anunciado
e nunca, nunca mais
vai chegar.
Quero um espaço
em seus pensamentos
sem aceitar que acabou.
Quero ir pro espaço
aqui tudo está tão só
chuva em meus olhos
porque te quero bem.
E querer bem
não devia fazer mal.
cadê todos os santos
orações, quebrantos
versos pobres,
doces cantos,
Cadê o que não findou
mas se perdeu,
e ninguém acha,
o que seria nós
o que não se encaixa
o que adormecido ficou.
Kadydja Albuquerque > resgatando poesias na minha gaveta de papeis.
o infinito
Quero o não dito
todas as frases
as canções que
passam pelas fases
do que somos
somado a tudo que nao foi.
Quero o riso
a pele, o gosto
Não quero esse desgosto
sua ausência, encosto
Quero o olhar
não consigo mirar
os olhos que não me procuram
não esbarram nos meus
no meio de tantos outros.
Quero a soma
do que foi anunciado
e nunca, nunca mais
vai chegar.
Quero um espaço
em seus pensamentos
sem aceitar que acabou.
Quero ir pro espaço
aqui tudo está tão só
chuva em meus olhos
porque te quero bem.
E querer bem
não devia fazer mal.
cadê todos os santos
orações, quebrantos
versos pobres,
doces cantos,
Cadê o que não findou
mas se perdeu,
e ninguém acha,
o que seria nós
o que não se encaixa
o que adormecido ficou.
Kadydja Albuquerque > resgatando poesias na minha gaveta de papeis.
Friday, June 12, 2009
Dia dos Namorados
Tá, tudo bem, hoje é dia dos namorados. Um dia inviável pra tentar jantar com os amigos em algum restaurante. Vamos deixar a peregrinação para aqueles que possuem uma metade. Mas pra falar a verdade, como diz meu amigo Mú, dia dos namorados é coisona.
Nao, não é porque eu estou solteira. Estou por "quase opção". Vamos pensar pelo lado positivo. Dia dos Namorados onera o seu orçamento. Ninguém compra um pacote de meias brancas pro namorado ou um CD da Calcinha Preta pra namorada. Comprometidos que se prezem gastam dinheiro com as suas amadas. Dão um bom presente, levam pra jantar e depois... ah, depois. Ok, essa pode até ser uma parte que faz falta, mas em um mundo moderno e livre, ninguém precisa comprar todo o pacote, não é mesmo?! ;-)
Sem falar que tem muita mulher hoje feliz porque é o dia da "oficial". Sim, sim, quem namora corre esse risco. Aí depois sábado à noite, ela fica em casa vendo o DVD duplo de Maria Bethânia com que seu amado a presenteou enquanto ele sai pra beber com os amigos. Ainda tem aqueles seres masculinos que dizem: "amor, hoje vai ser um inferno comemorar. Vamos deixar pra amanhã, certo?!", e a coitada vai dormir achando que seu namorado é super prático, tem bom senso, e quer evitar contratempos em um dia importante. Só que o sábado pós-12 de junho nunca chega.
Meninas, solteiras ou não, vamos ser espertas. Namorado que é namorado fica contigo na fila do restaurante durante 2 horas ou quando você chega do trabalho ele está com um big presente pra te dar e um jantar feito, pode ser encomendado também. Afinal, mulher nasceu pra ser mimada. Fica a dica.
Eu não me lembro do último dia dos namorados que comemorei. Portanto pra mim não faz grande diferença estar solteira. Vou encarar como mais uma sexta-feira em que eu me jogo pela cidade com meus queridos amigos e celebro essa vida tão mágica. Como diz o sábio ditado popular: antes só do que mal acompanhado.
Mas eu ainda assim acredito no amor. E escrevi sobre isso recentemente. Sou fã de casais apaixonados. Amar é muito bom, pelo menos eu acho né? Fui convidada por minha amiga, fotógrafa, turismóloga, viajante, cozinheira, vegetariana Mel Warwick para escrever um texto sobre o amor para sua exposição de fotos "UM a UM". Eis o texto abaixo para ninguém achar que esse é um post de uma mulher mal-amada. ;-) Até porque eu sou muito bem-amada, mas eu escolho os momentos. Essa independência ainda me derruba.. kkkkkk
Amor tem cheiro de pão quentinho, de passeio no parque em dia de domingo, de filme com pipoca no sábado à noite. Amor de novela, de verão, à primeira vista, secreto, platônico, proibido – a forma não importa. Buscamos o amor, sonhamos com ele, muitas vezes o encontramos, mas ele não encaixa tão completamente, e nos pomos a procurá-lo de novo com um presente roedor de unhas.
A esperança da chegada do novo é a velha história do chinelo, da outra metade da laranja, do príncipe encantado. E quando encontramos o amor... ah, o amor. Todo dia é feriado, toda noite é gostosa, toda canção é samba. Damos bandeira, sorrimos pro futuro, aceitamos o presente e nem lembramos do passado. Ele está no ar, naquele ar onde o céu é mais azul e quase nunca chove.
Feliz Dia do Amor, seja com quem for! :-)
Nao, não é porque eu estou solteira. Estou por "quase opção". Vamos pensar pelo lado positivo. Dia dos Namorados onera o seu orçamento. Ninguém compra um pacote de meias brancas pro namorado ou um CD da Calcinha Preta pra namorada. Comprometidos que se prezem gastam dinheiro com as suas amadas. Dão um bom presente, levam pra jantar e depois... ah, depois. Ok, essa pode até ser uma parte que faz falta, mas em um mundo moderno e livre, ninguém precisa comprar todo o pacote, não é mesmo?! ;-)
Sem falar que tem muita mulher hoje feliz porque é o dia da "oficial". Sim, sim, quem namora corre esse risco. Aí depois sábado à noite, ela fica em casa vendo o DVD duplo de Maria Bethânia com que seu amado a presenteou enquanto ele sai pra beber com os amigos. Ainda tem aqueles seres masculinos que dizem: "amor, hoje vai ser um inferno comemorar. Vamos deixar pra amanhã, certo?!", e a coitada vai dormir achando que seu namorado é super prático, tem bom senso, e quer evitar contratempos em um dia importante. Só que o sábado pós-12 de junho nunca chega.
Meninas, solteiras ou não, vamos ser espertas. Namorado que é namorado fica contigo na fila do restaurante durante 2 horas ou quando você chega do trabalho ele está com um big presente pra te dar e um jantar feito, pode ser encomendado também. Afinal, mulher nasceu pra ser mimada. Fica a dica.
Eu não me lembro do último dia dos namorados que comemorei. Portanto pra mim não faz grande diferença estar solteira. Vou encarar como mais uma sexta-feira em que eu me jogo pela cidade com meus queridos amigos e celebro essa vida tão mágica. Como diz o sábio ditado popular: antes só do que mal acompanhado.
Mas eu ainda assim acredito no amor. E escrevi sobre isso recentemente. Sou fã de casais apaixonados. Amar é muito bom, pelo menos eu acho né? Fui convidada por minha amiga, fotógrafa, turismóloga, viajante, cozinheira, vegetariana Mel Warwick para escrever um texto sobre o amor para sua exposição de fotos "UM a UM". Eis o texto abaixo para ninguém achar que esse é um post de uma mulher mal-amada. ;-) Até porque eu sou muito bem-amada, mas eu escolho os momentos. Essa independência ainda me derruba.. kkkkkk
Amor tem cheiro de pão quentinho, de passeio no parque em dia de domingo, de filme com pipoca no sábado à noite. Amor de novela, de verão, à primeira vista, secreto, platônico, proibido – a forma não importa. Buscamos o amor, sonhamos com ele, muitas vezes o encontramos, mas ele não encaixa tão completamente, e nos pomos a procurá-lo de novo com um presente roedor de unhas.
A esperança da chegada do novo é a velha história do chinelo, da outra metade da laranja, do príncipe encantado. E quando encontramos o amor... ah, o amor. Todo dia é feriado, toda noite é gostosa, toda canção é samba. Damos bandeira, sorrimos pro futuro, aceitamos o presente e nem lembramos do passado. Ele está no ar, naquele ar onde o céu é mais azul e quase nunca chove.
Feliz Dia do Amor, seja com quem for! :-)
Sunday, June 7, 2009
Feliz Niver, Joselita!
A humanidade avançou tanto nas inovações tecnológicas, mas não conseguiu ainda inventar algo que diminuísse a saudade. OK, criaram a Internet e suas ferramentas de interação social que nos aproximam daqueles que estão fisicamente longe. Mas o ser humano precisa do contato corpo a corpo.
E eu queria acordar hoje e ter esse dispositivo de "aparatar" pra perto da mulher mais importante da minha vida. Hoje é aniversário da minha mãe, e como em todos os outros últimos aniversários, estou longe. Tenho pensamento, coração, alma próximos, mas fica a vontade do abraço, de almoçar com os meus coroas, de dar presentes e rir das loucuras que ela fala.
Nós não escolhemos a nossa família. Ela nos cai no momento em que viemos ao mundo, mas não por acaso. Fomos colocados para viver com os nossos pais e irmãos porque é preciso construir os laços espirituais e utilizá-los no aprendizado, no crescimento do que somos, e do que vamos prestar contas quando esse mundo ficar para trás.
E eu sou uma mulher de sorte porque tenho ela como minha mãe. Tudo bem que às vezes ela esquece de me ligar, mas é só deixar um scrap com "mãe, eu tô bem viu?" pra ela telefonar me chamando de dramática. Tudo bem que às vezes ela não entende as decisões que eu tomo na vida, e fica querendo quebrar essa cabeça dura aqui, mas depois aceita que eu não as tomo por impulsividade, mas por vontade de ser feliz de fato. E ver os filhos felizes é a grande ambição desta mulher que escolheu ser mãe, esposa e dona de casa em período integral.
Sim, é uma escolha. Como todas as outras que fazemos pela vida. Eu escolhi a minha carreira, a minha paz que, conquistadas, deixam-me tranquila para procurar o amor. Porque eu acredito no amor. Mas eu ganhei de presente de Deus o mais importante - o amor incondicional. Se eu ainda não vivi na minha vida aquilo que chamam de grande amor, não importa. O amor que meus coroas sentem por mim é mais imenso que qualquer outro. E minha mãe é expert em dar amor, em cuidar dos filhos, em preservar a família, e eu sei como deve ser duro pra ela nos ver tão fragmentados.
Mas a beleza está nisso, mãe. Estamos distantes e perto ao mesmo tempo. E você é nosso elo. Quem mais tem uma mãe tão Joselita sem noção? Ou uma compulsiva por limpeza? Ou ainda viciada em comprar e em cumprir promessas?
Hoje eu queria estar aí, e eu estou. Não fique triste. Aproveite essa cidade maravilhosa e saia com o seu coroa para comemorar. Sim, porque temos muito mais para comemorar do que para entristecer.
Obrigada por ser essa pessoa singular, por ser minha mamis. Te amo, Nadja Geller! ;-)
Friday, June 5, 2009
Josefina e o peso de papel
Josefina, toda vida, escreveu seus versos em folhas de papel com caneta vermelha, e costumava colocá-los em sua escrivaninha com um livro pesado em cima para que eles não se perdessem pelo chão da sala. Certo dia, ela ganhou um peso de papel, no tamanho certo, da forma que ela queria, com a cor que lhe trazia felicidade.
Tantos foram os versos que Josefina se empenhava em escrever para dar ofício àquele peso de papel, que ele foi ficando pequeno, pequeno, e o vento que entrou pela janela, esquecida aberta, desafiou a sua força. Os versos caíram no chão molhado pela chuva, companheira do vento. O peso de papel teve sua sentença e foi pra gaveta. Os papéis secaram e enrugaram as palavras que compõem versos, agora, borrados.
Josefina parou de versar. Mas toda vez que abre a gaveta, o peso de papel lhe provoca. Sem querer, ela retorna ao sonho de casar palavras e de não mais esquecer a janela aberta.
Friday, May 29, 2009
Casa nova, vida nova... e mais um ciclo se encerra.
A vida acontece em ciclos e é inútil tentar acelerá-los. Tão inútil quanto é achar que podemos postergá-los mais um pouco. As coisas te invadem no tempo certo. Aceitar isso é o primeiro passo para a felicidade. Hoje, um ciclo na minha vida de fato se completa. Não foi esperado, trabalhado, procurado. Aconteceu. E é assim que o universo trabalha. Basta receber o que a vida te traz e tirar o melhor proveito disso.
Há um misto de felicidade e de tristeza. Estou feliz por seguir em uma nova vida, com novos desafios, algo que sempre me fascinou. A sensação é de libertação que chega, invariavelmente, com toda mudança. E nesse momento, ter coragem é essencial. Isso nunca me faltou, graças a Deus. Quando ela capenga, eu tenho minhas formas de trazê-la de volta. Enfim, é inevitável sentir o frio na barriga, a brisa de um novo tempo, a sede de mergulhar de cabeça nesse novo projeto. Agora farei parte de uma equipe que tem a mudança como companheira de vida, e que entra em um projeto para torná-lo bem sucedido. Vai ser muito bom poder trabalhar com essas pessoas.
A tristeza aparece porque é impossível maldizer o passado. Durante dois anos e meio, fui apaixonada pelo meu trabalho. E ainda sou. Sou uma profissional de comunicação, está no meu instinto, é o que melhor flui em mim. Nesse tempo que passei na Secom, fortaleci grandes amizades, construi outras, e vi uma semente ser plantada com zelo e profissionalismo. Ir embora é essencial pra mim, pra minha nova vida, para o que eu quero construir em todas as áreas do meu caminho, mas levo a saudade. Eu me recuso a esquecer todas as conquistas, todos os sonhos e projetos não realizados. Vou levá-los comigo como um troféu, símbolo da vitória de toda essa equipe maravilhosa.
À vida, querida... que ela é bela e plena, sempre.
Há um misto de felicidade e de tristeza. Estou feliz por seguir em uma nova vida, com novos desafios, algo que sempre me fascinou. A sensação é de libertação que chega, invariavelmente, com toda mudança. E nesse momento, ter coragem é essencial. Isso nunca me faltou, graças a Deus. Quando ela capenga, eu tenho minhas formas de trazê-la de volta. Enfim, é inevitável sentir o frio na barriga, a brisa de um novo tempo, a sede de mergulhar de cabeça nesse novo projeto. Agora farei parte de uma equipe que tem a mudança como companheira de vida, e que entra em um projeto para torná-lo bem sucedido. Vai ser muito bom poder trabalhar com essas pessoas.
A tristeza aparece porque é impossível maldizer o passado. Durante dois anos e meio, fui apaixonada pelo meu trabalho. E ainda sou. Sou uma profissional de comunicação, está no meu instinto, é o que melhor flui em mim. Nesse tempo que passei na Secom, fortaleci grandes amizades, construi outras, e vi uma semente ser plantada com zelo e profissionalismo. Ir embora é essencial pra mim, pra minha nova vida, para o que eu quero construir em todas as áreas do meu caminho, mas levo a saudade. Eu me recuso a esquecer todas as conquistas, todos os sonhos e projetos não realizados. Vou levá-los comigo como um troféu, símbolo da vitória de toda essa equipe maravilhosa.
À vida, querida... que ela é bela e plena, sempre.
Tuesday, May 26, 2009
Travessia
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que ja têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos". (Fernando Pessoa)
Foto: pelo céu desse meu Brasil... by me.
Sunday, May 24, 2009
Playing for Change
Tô encantada com esse projeto - Playing for Change: Songs around the world. Bem, que eu gosto de música não é novidade, mas vendo os vídeos, fico pensando sobre a diversidade que existe nesse mundo. Diversidade e riqueza culturais ao mesmo tempo. Músicos tão diferentes, em lugares "igualmente diferentes", mas que se unem em uma mesma canção, e pra passar uma mesma mensagem.
Cada cena traz o mesmo sentimento: o amor pela música. Não me surpreende saber que esse documentário ganhou prêmios. O objetivo é espalhar paz pelo mundo através da música. Enfim, eu estou encantada e já aderi ao movimento (http://playingforchange.com/participate).
É muito bom descobrir coisas legais assim... é quando a gente tem certeza que é preciso sempre colocar muito amor naquilo que se faz. Muito amor na relação com as pessoas, sobretudo. Tem muita gente que ainda prefere ruminar ódio, inveja, intriga. Isso é tão over. Cultivem o amor, o sorriso, a memória das coisas boas que passaram por sua vida e a imaginação do que ainda virá.
Funciona. ;-)
Boa semana!
Outros vídeos em: http://www.youtube.com/user/PlayingForChange
Friday, May 22, 2009
To my nigga!
Fernanda é, no mínimo, um exagero da natureza. Olhos grandes, sorriso largo, nada disso é tão imponente quanto a sua capacidade de teorizar sobre a vida e de sentenciar o próprio futuro. É o que faz dessa minha grande amiga uma das pessoas mais engraçadas que conheço.
Melhor adjetivo: espirituosa. Uma boa conselheira para conselhos que ela mesma nunca segue. Uma amiga daquelas que topa sacrificar o seu sábado à noite quando você facilmente a convence de que não há muita coisa interessante nas baladas de Aracaju. E aí, o que era pra ser uma noite de jogação, vira um encontro de amigas para conversar sobre a vida.
Eu não cresci gostando dela. Pelo contrário, ela já foi uma daquelas moças de Aracaju que me faziam torcer o nariz na época em que eu ainda perdia meu tempo com isso. Mas resolvi me abrir para conhecer essa moça e ela entrou no setor de melhores amigas do meu coração.
Nanda, P.A do coração, negona, negróide, preta do TJ, flor do ébano, pérola negra, my nigga... eu não estou em Aracas para comemorar seu B-day, mas você sabe que à distância eu celebrarei o seu dia. Desejo pra você tudo que eu desejo pra mim mesma, e que você sabe bem o que é, de tanto que a gente conversa sobre as coisas boas da vida, jogando no vento aquilo que acontecerá inevitavelmente. :-P
Ofereço-lhe todos os votos óbvios de aniversário e mais um pouco. Somos irmãs, companheiras, BBF's, e mulheres encantadas com a vida e com a possibilidade de pleitear sempre as garantias constitucionais básicas do contraditório e da ampla defesa. Obrigada por me atualizar com os termos jurídicos, ser inimputável! kkkkkkkk
O amor e as bençãos da vida são consequências dessa forma de encarar o caminho e de vencer as adversidades.
Estou com você. Conte comigo. Tchiamu!
Feliz Vida!
K
Monday, May 18, 2009
Dia de chuva
Foto: Soneca e Nina, meus amores.
A chuva batendo na janela
lava tudo, quase em tudo
não se vê mais nada
nem um pingo de sentido,
de sentinela.
A gripe que amolece meu corpo
traz a força que revela
o que já se faz em tudo
e do nada vem a sensação
do vivo que estava quase,
quase morto.
A música que percorre minha cama
abraça os sonhos que sem sono
caminham pro futuro
onde o trono, a recompensa
do que se espera, na verdade
é o que se chama.
O que se chama é amor,
sentido em tudo, em cada gesto,
olhar ou ainda pensamento.
Amem ou calem. Sem amor,
tantas e outras coisas
de nada valem.
Kadydja Albuquerque > 18.05.2009
Uma semana intensa para todos, como a minha gripe. ;-)
Sunday, May 17, 2009
O mundo e seus moinhos
O mundo é de fato um moinho. Em algumas horas, mói a carne, a alma, os sonhos. Em outras, é moinho de ventos... carregando o que há de velho e anunciando mudanças. Esses ventos que varrem um céu que nunca é o mesmo, ainda que espelhe o mesmo azul de ontem. O azul de hoje é mais vivo, mais sereno, mais nítido. Ofusca menos, encanta mais.
Reza a lenda que Cartola fez essa música para sua filha quando descobriu que ela estava se prostituindo. E por que às vezes nos cabe tanto esta letra? Porque nos prostituímos diariamente quando vendemos nossos sonhos, desejos e sentimentos. Quando entregamos o que há de mais autêntico a mão dos outros. Não falo apenas em amor, mas em tudo. Da ambição de ser reconhecido profissionalmente a construção de castelos com um princípe encantado que faz serenata em sua janela. Não adianta. Confiamos aos outros a capacidade de tornar reais os nossos contos de fadas.
E assim, a música se encaixa na alma. Ou desencaixa quando acordamos. A medida que não nos serve mais, o moinho de carne e sonhos transforma-se em moinho de ventos. As ilusões e o cinismo dão lugar ao livre-arbítrio de fazer valer o que se quer. E já não faz mais sentido muita coisa que antes atormentava. O presente nos anuncia um rumo e o futuro desanima o abismo, contrário ao sentido dos ventos.
Como quem avança em outra faixa de Cartola, o moinho do mundo dá lugar ao sol que sempre nascerá. "A sorrir, eu pretendo levar a vida..." ;-)
Boa semana a todos!
Domingo é o dia que mingo....
Friday, May 15, 2009
Rota do Sertão - dia longo!
ROTA DO SERTÃO - SERGIPE.
Ontem foi um dia muito intenso em tudo: 10 municípios, muita estrada (boa), calor, discursos e gargalhadas com essa equipe maravilhosa que faz parte da Secom.
Um dia ainda vou escrever sobre esse pessoal. ;-) Da esquerda pra direita: Wellington (redação), Nanda (MKT), Lucas (SSP), Paloma (redação), Ivy (SSF), eu (NIP), Nanah (Mídia Jovem), Elô, Mila (NIP), Jú (MKT) Rod (redação) e André (MKT). E tá faltando gente ainda na foto: Hugo Sidney, Márcio, Lúcio, Diogo, e Hugue (a pessoa da qual eu mais sinto saudades na vida... kkkkkkkkkkkkk e ele foi ontem.. owwwn!)
Noite de sexta = meu sofá!! Tô morta de cansada. Acho que mais tarde deve vir alguma coisa boa na cabeça pra escrever...
Fui!
Wednesday, May 13, 2009
Quarta-feira
Joguei no meu twitter o pedido de sugestão para um tema do próximo post no meu blog. Allan, meu fiel seguidor, sugeriu mais um texto sobre dia da semana. Ou seja, quarta-feira. Aceitei o desafio e pensei 5 minutos sobre isso. E conclui: a quarta-feira só não perde em desprezo para a terça-feira. Sim, porque ela ainda é um dia que rende música, nem que seja para mencionar a quarta mais especial de todas: a de cinzas. Alguém já viu música sobre terça-feira¿ Até deve ter, afinal sempre existe um criativo sensível para desafiar a convenção humana. E se tiver, é uma canção daquelas que passa por todos os dias da semana, como o Chiclete com Banana percorrendo as praias do Brasil. “Cantando em Porto Seguro quase morri de susto, uma gatinha nuazinha me disse: passe óleo no meu busto”. Poesia.
Então, quarta-feira é um dia em cima do muro. Todo mundo já está com aquele enfado do meio da semana e pensando na sexta-feira à noite. É um dia perfeito para happy hour. Renova as energias e você vai trabalhar na quinta se sentindo menos explorado pelo sistema. Agora naquelas quartas-feiras em que o salário já te deu tchau, a sugestão é criar novos universos. Foi o que eu fiz hoje. Entrei no twitter. Um troço que virou febre na internet onde as pessoas ficam colocando frases soltas, reflexões profundas e significativas como deve existir em todo ambiente de relacionamento na web. Além disso encontrei o imesh, um programinha legal para ouvir e baixar músicas. Não poderia ter tido melhor quarta.
Em hipótese alguma pense sobre sua vida em uma quarta-feira. Deixe isso pro domingo. Se estiver com a depressão batendo à porta, crie um twitter, um álbum novo no Orkut ou vá rezar. Mas não pense sobre aquela pessoa que entrou com o pé enquanto você contribuiu com a bunda, ou ainda aquele problema no emprego. Você vai ter a quinta e a sexta-feiras inteira pra disfarçar sua cara de derrota até poder enfiar o pé na jaca em algum canto auspicioso da cidade. Vá por mim.
Boa quinta-feira para todos!
Subscribe to:
Posts (Atom)