Saturday, October 3, 2009



Fé. Duas letras e carregam a força de todo alfabeto. Fé não se pega, não se mede, não se oferece. Está aí, de graça, para quem quiser senti-la. Eu todos os dias cuido da minha fé, como cuido dos meus gatos e do meu cabelo. É parte de mim e não me imagino sem ela. A vida já é árdua demais quando acreditamos no que nos move e nos condiciona a situações boas ou ruins; e seria mais difícil ainda sem ela.

Hoje acordei e li um salmo de São Paulo: “... esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Verdade. Não é preciso acreditar em Deus ou em seres encantados para crer que o desapego ao passado, a serenidade em relação ao presente e a confiança diante do futuro é o que te faz conseguir aquilo que deseja. E essas atitudes se sustentam na fé em si, no outro, naquilo que é abstrato.

Eu acredito em Deus. Acredito nas forças do universo. Acredito em mim e nos outros. Por muito tempo tentei entender o que não se deve. Entender não é o verbo melhor. Estou incorporando outro a minha vida: ser. Não é fácil. Somos seres curiosos, queremos respostas para perguntas que só nos machucam, queremos nos encaixar em padrões. E as respostas da vida não são dadas como em uma entrevista ping-pong. Elas demoram ou elas nem surgem. Nos dois casos há um único motivo: a resposta está em você.

A fé está em você. A festa está em você. O universo é você porque ele é seu. E aí não tem pra onde correr. Só há um caminho: o autoconhecimento. E esse caminho é duro, muitas vezes negro, revelador. É preciso querer se revelar. Eu já não sei se estou falando de fé ou de caminho. Acho que dos dois. Fé e caminho são almas gêmeas. A chave talvez seja o desapego ao resultado, ao fim da caminhada, ao que vamos encontrar.

O outro está sempre ali, à espreita, a provocar nossos sentidos. E nós deixamos porque é muito entediante viver apenas em si. O autoconhecimento não pode ser isolamento. E é na permissão da entrada do outro em nossas vidas que nossos átomos se inquietam, que surgem os ruídos na alma, os julgamentos de postura, os confrontos de essência.

E pra viver e ser com tudo isso é preciso ter fé. A fé que cantam os músicos, que escrevem os poetas, que rezam os religiosos, que negam os ateus, a que recorrem os desafortunados. É a mesma fé e nunca é a mesma. É o anoitecer em silêncio, a presença distante das estrelas, a vitória que vence o mundo, o ópio do povo, a única saída.

Fé. Duas letras e carregam o sonho de uma humanidade.

Foto: St Patrick's Cathedral - NYC.

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