Tuesday, October 6, 2009

Drummond

Desde o meu primeiro contato com Carlos Drummond de Andrade, eu me apaixonei por ele. É o meu poeta querido entre todos que eu venero. Drummond tem cara de vozinho. Um fofo. Seus versos cortam, afagam, emocionam, causam perplexidade aos aspirantes da poesia como eu.

Estava navegando pelo site Colherada Cultural (que indico veementemente!) e encontrei uma notícia sobre a criação de um site sobre o poeta pela editora Record > http://www.carlosdrummonddeandrade.com.br. Indico e sugiro que naveguem sem pressa.




A hora do cansaço
1984 - CORPO


As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

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