Wednesday, March 3, 2010

O dia em que eu assisti ao Coldplay



Meu primeiro contato com o Coldplay foi na época da faculdade enquanto escrevia a minha monografia. Não dei muita importância. Passou essa fase, diploma na gaveta e um Rio de Janeiro inteiro pra conhecer. Quando já morava lá com uma amiga, comecei a freqüentar a casa de outra que era fã da banda. Aí fui de fato apresentada ao Coldplay. Ouvíamos incansavelmente todas as canções do Parachutes. Logo, adotei Shiver como a canção que embalaria minhas ilusões. Isso foi em 2002, acho que no ano em que eles fizeram um show no Rio, mas eu era recém-formada, sem emprego e portanto sem grana, e não acompanhei essa outra amiga fã que, a muito custo, conseguiu entrar de graça no show no ATL Hall. Passou a primeira chance.

Depois, quando já morava em Lisboa, em 2004, eles fizeram duas apresentações na cidade. Já estava empregada, mas a grana era curta e a liberdade também. Meu namorado da época não gostava da banda e todas essas variáveis me fizeram perder mais uma oportunidade. Retornei ao Brasil, retornei a Aracaju e acompanhei os lançamentos como uma fã distante. Eles retornaram ao Brasil em 2007, mas também não pude assistir. Dessa vez acho que nem eu mesma tinha tanta esperança de um dia ir ao show dos caras.
Quando eles anunciaram a apresentação do Viva La Vida Tour na Apoteose, eu me prometi que iria nem que vendesse o meu carro. Comprei o ingresso ainda na venda para clientes do Credicard, em novembro do ano passado; comprei as passagens aéreas, e esperei. Quatro meses passaram mais rápido do que aquelas três horas guardando lugar antes do início do show. Como uma boa fã, eu já sabia o setlist, mas quem lembrava dele na hora?



Antes de começar o show, a Apoteose já lotada, veio a traiçoeira vontade de ir ao banheiro. Paula foi comigo para garantir que eu voltaria. No retorno árduo entre dezenas de “com licença” e “por favor”, a banda entrou no palco. Era 20h27. Fiquei um pouco desesperada porque eu havia guardado um local perto do alambrado que delimitava a área VIP da ralé (eu estava nesta última) e a cada passo que eu dava as pessoas se tornavam mais hostis. Eu argumentava que já estava lá antes e uns davam passagem. Quando não adiantava, eu usava a minha técnica desenvolvida em pipocas de micareta, e passava assim mesmo.

Pronto, cheguei ao local onde estavam os outros amigos e agora era curtir o show. Por curtir, entenda-se gritar, pular, cantar todas as músicas, agradecer a Deus por estar lá, reclamar com o casal da frente que tirava mais fotos deles do que prestava atenção, entre outras coisas. Life in Techicolor, Violet Hill, Clocks, tava amando tudo aquilo, prestando atenção em cada detalhe, mas ainda não havia surtado e tal. Foi quando eles começaram com In my Place e depois emendaram com Yellow. Covardia. A Apoteose inteira pulando e aquelas bolas amarelas gigantes passando de mão em mão. O palco completamente amarelo e a banda lá em cima dando o melhor.



Parênteses: o Coldplay é uma banda polêmica. Não pelo trabalho que fazem, mas pela recepção do seu trabalho pelas pessoas. Muitos amam, muitos odeiam. Respeito quem não gosta e não sou daquelas fãs que tentam catequizar os não-simpatizantes. Eu gosto, as músicas possuem uma relação direta com várias fases da minha vida e isso me basta. Mas mesmo que eu não gostasse, não há como achar que os caras são boçais. A interação deles com o público na Apoteose foi a mais sincera possível. Chris Martin se esforçou para falar português, pedia feedback da multidão e ainda tentava chegar o mais perto do público utilizando todos os espaços do palco.

Voltando... mais outras músicas e veio Fix You, Lost, e em seguida eles fizeram o que eu estava esperando desde que cheguei e vi aquele palco menor no meio da Apoteose. Ninguém acreditava em mim quando eu dizia: eles vão descer e vão tocar aqui, e nessa hora vai ter a chuva de borboletas. As meninas diziam: ah, que nada, você tá maluca que os caras virão aqui?

E eu estava certa, tirando a chuva de borboletas que ficou pra depois. Como acreditava realmente no que eu estava dizendo, me posicionei a 5 metros do palco. Acabou Lost e começou a tocar “Singing in the rain” enquanto eles desciam pelo corredor que dava acesso ao palco menor. Eu acreditava no que eu havia dito, mas não acreditava no que estava vendo. Há umas duas semanas, escrevi para o site oficial do Coldplay perguntando se havia chance deles tocarem Shiver no show do Rio. A resposta veio naquela hora. Chris posicionou o microfone para a direção em que eu estava e falou: Shiver.


Foto: Kaká Barbosa.



OK, ele nunca vai saber da minha existência, mas naquele momento ele estava cantando pra mim e eu não consegui cantar, nem fotografar, nem levantar as mãos pro alto, nem chorar e tampouco aplaudir. Fiquei em silêncio e lembrei de todas as vezes que ouvi aquela canção, e de quantas chorei. Lembrei das tardes de domingo no Rio ouvindo Parachutes, das caminhadas pelas ruas de Lisboa com meu discman, das manhãs no ponto de ônibus em Salvador indo para o trabalho, das noites quando estava recém-chegada em Aracaju e que durante seis meses eu ouvia essa canção antes de dormir tentando trazer de volta o passado. Lembrei do presente e das suas lições. E não chorei, não gritei, não tive pena de mim. A música me conectou a momentos muito fortes e eu percebia que já não havia nada em mim hoje que os quisesse de volta.


Foto: Kaká Barbosa.

Depois o show se tornou o resto do show pra mim. Emocionante, claro. Lovers in Japan e, finalmente, a chuva de borboletas. O bis com The Scientist. A chuva que não cessava. O apagar das luzes do palco e o acender das luzes da Apoteose. A comemoração cúmplice com os amigos. O retorno para casa. Quem é fã de algum artista ou de alguma banda, sabe da emoção desse encontro, ainda que coletivo, com o seu ídolo.


Molhados e Felizes.


Tudo foi perfeito como não poderia ser de outro jeito.

4 comments:

Unknown said...

A intensidade de "ouvir na pele" os caras que mais embalam os bons e maus momentos da nossa vida é uma emoção que só quem tem 'paixão' sabe...

Estaremos sempre a economizar uns trocados pra encher os bolsos desses mercenários... kkkkk :p

Adorei o texto!!!
Beijo

Carlos Lordelo said...

Oi, Kad!
Eu tb não acreditei qdo eles tocaram Shiver - até pq a galera nem pediu e geralmente a música não integra o set list da tour. Ela tb é a minha favorita entre todas as outras canções de Coldplay que sei de cor. O melhor de tudo é que eles tocaram acústico, o que traz um clima ainda mais surreal pra letra. Só não fiquei tão feliz qto você pq onde "me plantei" aqui no Morumbi não deu pra ver a parte do show no palco menor. Mas eu aprendi a lição e no próximo megashow de uma banda que eu gosto mto muito eu compro a pista vip, Hehehe..A próxima tour de Cold que me espere!

Kadydja Albuquerque said...

Carlinhos,

eu também aprendi a lição. Próximo show do Coldplay tem de ser VIP!! Bjo

Caju said...

O pior é que mesmo sabendo que essas provas de amor nunca serão correspondidas, nós insistimos. mas quem disse que é assim, de graça?