Saturday, April 25, 2009

Sábado



Nelson Rodrigues uma vez escreveu que o sábado é uma grande ilusão. É o dia que traz o desfecho da semana, quando os acontecimentos parecem não mais importar tanto, ou já assumem um gosto mais sedimentado de passado. Não apenas pela evolução cronológica do tempo, mas também porque o sábado traz suas promessas. A primeira manhã sem abrir e-mails do trabalho, uma tarde no salão, e a noite que será lembrada por todo o domingo, seja por sua magnitude ou pela ressaca que se arrastará ao longo do dia.

Pensando em sábados, semanas, passado e ilusões, é impossível não olhar pra dentro e rever suas próprias atitudes. É inevitável, ainda, não conjecturar sobre a presença dos outros em sua vida. E constatar o óbvio: somos responsáveis por tudo que nos acontece. De um gesto de carinho a um ato de desconsideração, de falsidade, ou ainda de inveja, somos nós os provocadores. Porque não há nada nesse mundo que nos obrigue a abrir olhos, ouvidos e coração. Nós o fazemos pela prerrogativa do livre-arbítrio. E o que vier como conseqüência deve ser encarado assim, como consequência mesmo.

Parece até discurso de quem sabe viver. Não é. É texto de quem reflete sobre a vida com a humildade de admitir que erra. Não me arrependo, é diferente. Eu aprendo e registro em um canto do meu cérebro onde reservo as lições que a vida me dá. Tem épocas em que a vida passa mais deveres de casa, e fica pesado aprender tanta coisa, responder tão rápido às situação de teste. Assim, os erros ficam mais freqüentes.
Aprendi que sou culpa ao mesmo tempo que sou vítima. E que a vida tem a cínica máxima que nos acompanha diariamente, a tal da lei da ação e reação. Ou seja, toma lá dá cá. Mas pra a decepção do alheio, eu me divirto com a ação e reação que a vida me traz.

Porque só se incomoda de fato quem não quer aprender com isso. Não há um ser humano pronto nesse mundo. Se assim tivesse, não estaria mais entre nós. Somos todos imperfeitos e essa é a graça da vida. Quem procura sempre acertar, não age com sinceridade, com alma, com o coração, porque o que nós temos de abstrato é que nos forma humanos. A sensatez, a polidez, a moral não vieram conosco, mas nos foram impostas como forma de autocontrole e de boa convivência entre iguais.

Então, estou aqui, errante. Nada é falso. Tudo é apenas parte de um processo de crescimento e de busca por aquilo que realmente me faça genuína. Sacrifícios são importantes. Extravasar é necessário. Confiar sempre deve fazer parte do repertório, mesmo que as pessoas sejam dotadas de intenções pouco confiáveis. Entretanto, o que é bonito mesmo nessa vida é conquistar confiança. E isso só você mesmo pode fazer com seus atos. Continuo acreditando nas pessoas, na vida, no amor, e é por isso que sigo dessa forma. E não sigo só. A fé me acompanha.

“Viver é desenhar sem borracha” – Millor Fernandes.

Foto: Pôr do Sol na Ilha da Sogra.

4 comments:

Quico said...

Affff, senti na alma!!!!!
Te acompanho nessa também, muléééé.
E todas as tarturagas tb te acompanharão, engajadas como somos (as tartarugas!).
Beijos

Allan Nascimento said...

Comentando, na moral...Li, reli, belíssimo texto. Viciei. Quero sobre cada dia da semana, agora. Faço torcida pra um sobre a segunda-feira.

Brigaaaaaado, Cibereza.

Kadydja Albuquerque said...

Quicuxo... no Rio tem oceanário... estamos nos devendo esse momento engajado! Te amooo meu radiologista estaciano-carioca que mora na Barra preferido!

Allan, depois você vai ter de me explicar porque eu sou uma antítese no bom sentido hein?! Respeite sua ex-teacher! ;-)

Allan Nascimento said...

Antítese, como a justaposiçao dos contrários. vc é gelo e fogo. Por um lado, transparece proteção contra qualquer um que queira entrar em seu mundo, conquistar sua amizade. Por outro, escreve coisas que tocam até quem é vítima desse teu escudo. Faz-se entender?