Sunday, January 5, 2014

Parto Vazio

Ao te amar
engravidei da dor.
Aninhei em meu ventre
o sonho de que ela se tornasse graça.

Eu a alimentei
lenta e pacientemente.
Pelas veias do meu corpo,
enviei força,
mas enquanto crescia,
graça não se tornava,
tampouco benção.
Nunca chegou a ser amor.

Então apelei para a sorte.
Saí por aí procurando a coragem
para que, já que nasceria dor,
nascesse bela.

E nas contrações,
corri milhas e lágrimas.
Quando ela nasceu,
parecia culpa.
Não, parecia mágoa, talvez.
Mas não era graça.
Não era sonho.

E só agora,
após noites a amamentá-la,
chegou a coragem
trazendo um presente:
o próprio presente com as mãos ensaguentadas,
anunciando que matou o passado.

A filha dor entreguei, com custo,
à visita em troca do futuro,
embalado em um papel frágil
que ainda não consegui rasgar.

Mas já não me dói o parto.
Levaram meus fantasmas,
levaram a dor que concebi.
Ficamos apenas eu e esse futuro não revelado.


Kadydja Albuquerque, 24 de dezembro de 2013.

O extremo e a beleza

Hoje pela manhã fui ao Parque da Cidade, aqui em Brasília, tentar recomeçar a fotografar. Não gostei de muita coisa do que eu fiz, mas ao voltar para casa, comecei a brincar com as imagens. E elas foram me revelando bem interessantes quando submetidas aos extremos (saturação, contraste, exposição e por aí vai...).

Talvez seja por aí, deixar-se chegar ao extremo para encontrar beleza.

Divido algumas:





Saturday, January 4, 2014

Voltando...

Estou sem escrever no blog há um ano e meio, e me pergunto o que causou isso. Seria inútil justificar. Prefiro (tentar) aceitar que eu precisava desse silêncio, ainda que hoje eu tenha a certeza de que silenciar você mesma é a pior das violências. A segunda é viver muito tempo no pretérito imperfeito: “eu poderia ter feito isso ou aquilo”, “eu deveria ter sido mais...”, e coisas do tipo.

Há uma frase no tango “Um vestido y un amor”, de Fito Paez, que tem borbulhado em mim nesses últimos dias.

“Hay cosas que te ayudán a vivir”. E só sabe o significado disso quem um dia perdeu a vontade pela vida. Essa, feita de ciclos, de círculos, de cínicos e de cicatrizes. Feita de dias tão cinzas que seu corpo permanece imóvel, como coberto por concreto. Essa vida que se vive aqui dentro, querendo, cobrando, exigindo que seja colocada pra fora.

Sim, há coisas que nos ajudam a viver. Para mim, escrever é uma delas. E vou voltando aos poucos. Não é fácil me mostrar. Ainda não me sinto livre. Mas começo a quebrar o concreto e os dias anunciam alguma cor. Lá fora. Onde ainda não quero ir. Porque sempre que vou, não me sinto parte. Ou não acho a minha parte. "La llave de mandala se quebró".

É só o que tenho vontade de escrever hoje. Já deve ser um bom começo para um novo ano, ainda que eu esteja cansada do novo.


De novo.