Sunday, May 30, 2010

Silêncio

O silêncio também é grito. É a voz da redenção. A cor cinza que torna os olhos opacos, cegos na crença. Silêncio é sintoma do olhar que já não tolera o que está a sua volta. Não é fuga, é uma forma de encarar o tempo sem contestá-lo.

Silêncio é protesto. É a última tentativa de enxergar por fora o que te assombra, inquieta, dói. É contravenção em uma época onde se fala demais. Uma época em que viver a vida do outro dá mais tesão do que viver a sua.

Silêncio é desdém para o alheio e seu poder barato. É sabedoria de impor limites. É uma forma de criar barreiras para a ignorância. É a melodia do perdão para as almas. É caminho para encontrar a si mesmo, e preservar seus valores.

Silêncio é sonho. É a comunicação mais sublime. É a mão abstrata que pede ajuda, mas que ao mesmo tempo barra o que te faz infeliz. É um despertador de problemas. É um mergulho à procura de soluções. É retirada pra trilhar um novo percurso, mais confiante, menos vulnerável.

Silêncio é resposta.

Monday, May 24, 2010

Caminho de volta



O caminho de volta é parte das voltas
que o mundo dá.
O ruído da porta é aconchego da rota
quando se quer chegar.
O instante do encontro é a virada do ponto
quando se precisa seguir.
O timbre da voz é o presente do algoz
quando se limita a ouvir.

Kadydja Albuquerque (25.05.2010)

Sunday, May 9, 2010

A menina e a boneca



A menina tinha uma boneca
e seu nome lhe fazia rir.
A boneca tinha uma menina
e lhe ensinou a fingir.

Fingia colo,
fingia medo.
Fingia amor,
Fingia segredos.

A menina criava mundo
para sua amiga de pano,
que em silêncio profundo,
alimentava o coração humano.

A boneca tinha uma canção,
que a menina lhe escreveu.
Um universo, um refrão,
que um dia pereceu.

Virou moça, virou ano.
A boneca foi pra estante.
Com ela, foram-se os panos
daquele universo infante.

A menina foi pra vida,
que não lhe fazia sorrir.
Criou mundo, e outras canções,
que alguns não souberam ouvir.

Virou mulher, virou ano.
O sonho já não morava ali.
Em seu coração criou pano
e reaprendeu a fingir.

Texto e Foto: Kadydja Albuquerque