Wednesday, August 25, 2010

Ser mulher é seguir em frente

Texto e fotos da exposição "Ser mulher é seguir em frente", produzida especialmente para o Grande ato das Mulheres por Sergipe, que aconteceu ontem, dia 24, no Iate Clube. As fotos são de Melissa Warwick e o texto é meu.



Como uma rosa, a mulher é um ser belo porque carrega consigo cor e suavidade, mas também porque não esconde os seus espinhos. Em toda mulher há o sentido que intui o verdadeiro caminho, mas há mais forte aquele que luta contra as suas próprias vontades pelo prazer de proporcionar a felicidade ao outro.



Ser mulher é sempre oferecer colo ao passado sem deixar de acariciar o presente e de acreditar no futuro. Toda mulher tem direito à livre imaginação para colorir mundos com a confiança e a humildade de quem tudo sabe, tudo imagina e tudo espera.



Ser mulher é nascer delicada. É não ter medo de experimentar as sensações que a vida lhe proporciona, mesmo que ao final venha a dor. Toda mulher tem direito a ser curiosa e a encarar a vida como um palco de experiências únicas.



Em toda mulher, persiste a criança que não se furta em sorrir para o outro porque sabe que a melhor forma de caminhar é com as mãos dadas. Toda mulher tem direito a sempre continuar jovem e a fazer da vida uma constante descoberta.



Ser mulher é ser solidária. O coração feminino possui mãos que se estendem para dar carinho e esperança. Toda mulher tem direito a dizer não ao egoísmo, ao abandono, ao preconceito, à injustiça, e a encarar o desafio de viver em harmonia com a sua sociedade.



Ser mulher é sempre ter forças para reinventar o seu próprio caminho. Toda mulher tem direito a ser livre para viver as manhãs de sol, as tardes chuvosas, as alegrias e as dores que te fazem crescer e ser feminina.



Ser mulher é abrigar em seu destino a missão de preparar outro ser para o mundo. O amor de mãe vem antes da primeira vista. Ama-se o que ainda não conhece. Ama-se o que mais tarde, fatalmente, vai deixar partir. Toda mulher tem direito a viver o amor incondicional por seu filho.



Ser mulher é estar ao lado e compreender quando não é necessário falar, mas apenas sentir. É encarar o peso dos anos com a mesma paciência de quem um dia ensinou o seu filho a andar. Toda mulher tem direito a ser respeitada por sua experiência e a envelhecer com dignidade.



Ser mulher é carregar em si os saberes de uma tradição com a humildade de quem está destinada a perpetuá-los. Toda mulher tem direito a conduzir e a preservar a sua história e a de seu povo.



Ser mulher é saber expressar seus sentimentos. É sentir desconfiança, amor, graça, tristeza, carinho sem medo de não ser compreendida. Toda mulher tem direito a viver seus sentimentos sem precisar negociá-los.



Ser mulher é pôr delicadeza em seu ofício, ainda que a outros olhos não pareça tão importante assim. Toda mulher tem direito a viver do fruto do seu trabalho e a se sentir valorizada por seus saberes e por seu talento.



Ser mulher é ser múltipla. É construir castelos, vestir fantasias, cultivar sonhos e acreditar neles. Toda mulher tem direito a exibir suas várias nuances, e a sonhar com a garra de lutar para que eles se tornem realidade.



Ser mulher é ser cúmplice do seu corpo. É perceber as suas limitações, mas não se intimidar diante dos desafios de envelhecer. Toda mulher tem direito a ser saudável, a se amar como é e a viver uma vida plena.



Ser mulher é oferecer seus ouvidos para compreender o outro. Ser companheira e conselheira, e também ser confidente. Ser mulher é saber o melhor momento para falar ou calar. Toda mulher tem direito a ter os seus momentos de silêncio, de segredo ou de cumplicidade.



Fé é uma palavra feminina presente em toda mulher. Fé no amanhã, fé na Humanidade, fé na sua própria força. Toda mulher tem direito a escolher a sua religião e a ser respeitada por sua crença.



Ser mulher é vivenciar os preconceitos sem deixar que eles limitem a sua existência no mundo. Toda mulher tem direito a viver plenamente todas as formas de amor e a ser respeitada por suas escolhas.



Ser mulher é ser forte sem perder a graciosidade. É ser guerreira de uma luta sem armas e sem sangue. Toda mulher tem direito a ser forte sem medo de perder o seu encanto.



Ser mulher é levar com graça a dança da vida. É sempre escolher a melhor música para guiar os seus caminhos. Toda mulher tem direito a ser alegre, a dançar, a brincar com a sua liberdade.


Foto: Kadydja Albuquerque

A verdadeira mulher olha confiante para o futuro. Sabe que existem momentos de medo, mas que são fases que conduzem a um novo tempo. Toda mulher tem direito a acreditar no amanhã e a defender o mundo melhor.



Ser mulher é compreender seu próprio caminho. Encarar seus desvios, atalhos, obstáculos. Valorizar as pontes que unem suas histórias e a paisagem que se desenha ao longo da vida. Toda mulher tem direito a caminhar à sua maneira. Toda mulher sabe que a melhor escolha, sempre, é seguir em frente.

Monday, August 16, 2010

O lugar do poeta

Em todo poeta há um lugar.
Um mundo sem estradas,
um canto sem sentido
onde vivem os versos.

Um mundo diverso,
uma cidade fantasma,
onde só moram palavras,
todas órfãs da razão.

Cada poeta é um universo
que se divide em outros.
É tanto a procurar pouco.
Um grito já nascendo rouco.

A nação do poeta é um país
longe, abstrato, sitiado.
Na solidão do seu parto,
o poeta nasce pra dentro.

Kadydja Albuquerque, agosto de 2010

Friday, August 13, 2010

Reinvenção


A menina e o pombo. Rio Branco, julho de 2010.

A vida só é possível
reinventada.


Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Cecília Meireles