Thursday, July 28, 2011

"Transformai as velhas formas do viver"



Hoje eu faço 31 anos. Ainda me lembro de quando fiz 15 e tinha cabelos mais longos, uma pele mais viçosa e uma energia própria da adolescência. Os cabelos encurtaram e enegreceram, a pele tomou seu rumo natural e a energia diminuiu, porém tornou-se mais focada.

Na verdade, nada disso importa (tanto). Não tenho medo de envelhecer fisicamente. Não me entristeço diante dos desafios do corpo. O meu compromisso eterno é com a minha alma, com a minha mente, com o meu coração. Essa é minha grande luta que travo todos os minutos e da qual já pensei tantas vezes em desistir, mas nunca consegui fugir.

E acordei hoje revisando memórias à procura do que de fato me tornou mais “velha”. Descobri que carrego ainda os mesmos sonhos da adolescência e os mesmos apertos que maltratam meu coração de menina que ainda acredita, e nem sei como acredita, que o amor é prioridade máxima na lista de sentimentos.

Carrego o mesmo sorriso que só se mostra quando me sinto à vontade; o mesmo olhar transparente que ora afaga ora recrimina; a mesma apatia diante do que não me dá tesão; a mesma euforia quando descubro um novo lugar, uma nova pessoa, um verso, uma canção, uma imagem, diante da descoberta eterna e cautelosa da minha própria essência.

Acho que não fiquei mais velha porque não me sinto mais madura. Sou tantas aqui dentro em constante conflito que às vezes penso que vou explodir como uma tia de escola tentando conter a gritaria dos alunos em sala de aula. Ainda não aconteceu, mas o caminho quis que assim fosse e que a cada experimento eu me desfragmentasse, e deixasse um pouco de mim pelos anos.

Talvez eu tenha aprendido algumas coisas. Em teoria. Certeza, tenho apenas a de que hoje me conheço mais, embora ainda não me aceite tanto. Conheço meus demônios e meus anjos internos que fazem de mim um ser humano. Essa é a minha grande conquista nesses 31 anos. Conhecer-me.

Até me atrevo a complementar a poesia de Guimarães Rosa. O que a vida quer da gente é coragem, mas a coragem de enfrentar-se. Olhar além do espelho não é pra qualquer um. Dói, dá raiva, faz chorar e querer ficar encolhido na cama. Mas se não for pra ser assim, não vale a pena comemorar primaveras. Mesmo que seja difícil, preservo meu direito de viver meus invernos.

Que eu viva mais alguns anos nessa busca e no desafio de aceitar que tudo está em seu lugar certo, mesmo quando parece errado. E o que eu quero para mim nesse novo ciclo? Apenas paz e a capacidade de nunca esquecer as coisas pelas quais devo ser grata.

E assim seja.