Friday, April 22, 2011

Superação de Páscoa ou aventuras de uma desprendada


Ficou até bonito, não?

Estamos na Páscoa e, por mais que eu não seja uma cristã fervorosa, sei que é um momento oportuno para refletir sobre suas práticas, defeitos, medos, e pactuar novos desafios que te façam sentir melhor (sim, desconsiderei a parte de comer ovos de Páscoa porque não ganhei nenhum esse ano e acho essa coisa de Coelhinho um tanto forçada. Temos chocolates o ano inteiro e não quero ser obrigada a aumentar a dose de consumo neste feriado. Obrigada).

Então, nesse processo de reflexão, voltei a questionar a minha fobia, disfarçada de descaso, pelo ato de cozinhar. Gosto de cozinhas, claro, e me encantaria ter uma daquelas cozinhas hightech, mas sempre administrada por alguém que não fosse eu. De onde vem esse medo? Da infância, lógico. Nunca precisei cozinhar e a cozinha não era um ambiente de integração em minha casa. Era um lugar para onde eu ia quando a refeição estava pronta ou quando eu queria um lanche rápido. Então, é assim até hoje.

Acontece que com o tempo você começa a questionar porque não sabe fazer um arroz ou porque o simples fato de dourar uma cebola lhe causa arrepios. Eu sempre acho que vou colocar fogo na casa, ou perder um pedaço do dedo, ou o pior: passar horas cozinhando e ao final a comida vai sair péssima e eu terei de comer assim mesmo porque é tarde demais para preparar outra coisa, ou imoral demais para jogá-la fora e desconsiderar a fome mundial.

Corta... vamos à minha experiência de Páscoa. Fui ao supermercado na quarta-feira e decidi que iria fazer, na sexta santa, um arroz de forno com atum e molho picante. Uma receita mais fácil que misto quente para quem tem o hábito, mas para mim um imenso desafio. Entretanto, eu estava com uma dúvida e liguei para a pessoa que me socorre nesses momentos e que não me julgaria um caso perdido nem se eu perguntasse como se faz um ovo mexido: minha mãe.

(Quarta-feira, às 20h53)
- Alô, mãe? Quero tirar uma dúvida... o que é farinha de rosca? É farinha de mandioca?
- (risos) não filha, é farinha de pão dormido. Você tem que moer o pão velho.
- Jura? Não posso comprar pronta não? Vende no supermercado? Não tem aqui na prateleira de farinhas.
- Pode, mas é na seção de pães. Pra que você quer isso?
- Resolvi cozinhar e precisa desse troço. Ok, vou ver lá. Beijos
- (risos)... tá.. beijos.

Tá, gente, tenho certeza de que minha mãe riu porque achou bonitinho. Qual mãe não acharia fofa sua filha querendo aprender a cozinhar? Ok, seria mais fofo se ela tivesse 10 anos de idade e uma sede de conhecimento infinita. Mas eu só não tenho mais 10 anos. ;-)

Chegou a sexta e, perto do almoço, recebi dois convites de almoço: camarão e bacalhau. Interpretei como o Universo tentando sabotar a minha ressurreição e agradeci, mas fui pra cozinha. Como eu havia dito, o desafio era um arroz de forno com atum e molho picante. Mas para se fazer um prato desses é preciso antes cozinhar o arroz. o.0

Aí tive de pesquisar na internet pesquisar sobre como fazer um arroz branco e soltinho. Achei o site, li cinco vezes e fui cozinhar. O arroz saiu soltinho, mas branco já era demais. Deixei queimar uns graõzinhos, mas nada que merecesse autoflagelação.

Com arroz pronto, juntei a mussarela picada, o atum, o molho picante e a seleta de legumes. A mistura foi para um refratário. Era a hora de fazer a cobertura com queijo parmesão ralado, manjericão e farinha de rosca. Baby stuff né? Seria se eu não tivesse batido o braço e derrubado tudo no chão. Mas é Páscoa, então se você tem ingrediente suficiente para cinco tentativas, acredita na providência divina e tenta de novo. Com a cobertura já salva no refratário, levei tudo ao forno pré-aquecido. Vinte minutos depois e duas ameaças de queimaduras leves, consegui levar o prato à mesa.

Na hora em que eu ia começar a comer, esqueci de um detalhe: a chuva da manhã me deixou com o nariz entupido e talvez hoje não fosse um bom dia para avaliar o sabor do meu almoço. Mas mesmo assim preparei a mesa e me convidei a provar o fruto da minha coragem. O gosto era de vitória, simplesmente porque eu não quis cuspir a comida imediatamente. Orgulhosa de mim, repeti o prato que fiz para um batalhão (sim, exigir que eu não siga à risca as porções da receita é um nível avançado demais para mim).

Se o Claude Trogois provasse, provavelmente a nota ficaria entre 6 e 7, mas eu me reservo ao direito de me dar 10 pelo simples fato de ter superado minhas limitações e saído ilesa. Rs. É isso, mesmo que uma dor de barriga venha depois, a sensação de agora vale a pena.

Feliz Páscoa para todos!