Monday, October 26, 2009

Sobre posts que quero fazer


Life is a gury eyed, heavy hearted, whirlwind of a storm
Something they just hurt too much to cry
Memories are like shadows, the light won't make them disappear
So I still see you smiling with your eyes

So did you go back from where you came
If I get there, if they have my name
If they don't I'll only have myself to blame
For all these things
True happiness is having wings

Having Wings - Ben Harper

Tenho dois posts que pretendo fazer quando estiver menos cansada. Um é sobre mulheres que moram sozinha e outro é um conto que ando escrevendo, mas que travei na melhor parte.

Já é tarde da noite e eu preciso dormir. Quis postar esse vídeo da música "Having Wings" do novo álbum do Ben Harper porque hoje comecei a prestar atenção nesse álbum que eu já tinha gravado há mais de um mês. E essa música me tocou. Nenhum comentário especial, apenas uma dica e um convite para que baixem ou comprem o álbum.

Queria fazer um post também sobre "Bastardos Inglórios" do Quentin Tarantino, mas temo não saber explicar o que senti. Achei o filme sensacional. Gostei de tudo mesmo, só queria que o Tarantino deixasse um pouco de lado o fascínio pelas loiras e viesse no próximo filme com uma morena a la Pulp Fiction. Eu prometo que vou juntar essa obsessão de Quentin com o filme "Os homens preferem as Loiras", de Howard Hawks, que eu assisti esse final de semana, e fazer um post.

Já tenho muitos temas. É que hoje é uma segunda com cara de domingo, e eu estou sem saco. Procrastinar é um verbo que atormenta não só pela pronúncia e pela grafia. MAs eu sigo procrastinando... ;-) Boa semana!

Thursday, October 22, 2009

Lençois I: Seu Cori



Seu Cori, 82 anos, garimpeiro da Chapada Diamantina. Hoje, memória viva e paciente do auge da caça aos diamantes na região baiana. Uma graça, um vozinho. Com a sua simplicidade e paixão pelo ex-ofício, construiu um museu em sua casa. Parada obrigatória em Lençois.

Peça para ver a simulação do processo de garimpagem. E ouça atento a história de como ele conheceu Dona Maria, sua esposa há 50 anos, no tempo em que o amor ainda era um sentimento pacientemente construído.

Vivi muitos momentos intensos em Lençois e, aos poucos, no tempo de maturação das fotos, vou descrevendo aqui.

Foto: Kadydja Albuquerque

Lá no Beco...



Amanhã (sexta 23) acontece mais uma programação da Sexta no Beco, uma iniciativa do recém-formado Coletivo do Beco, que reune artistas e entusiastas da cultura sergipana em prol da revitalização do Beco dos Côcos, um local que até pouco tempo era cenário de prostitutas e usuários de crack.

Estou muito entusiasmada com esse movimento. É maior do que a apropriação de um lugar no centro de Aracaju. É uma prova de fôlego da cena cultural sergipana. E eu torço mesmo para que dê certo e que o beco vire o coração cultural da cidade.

Estive lá na sexta passada e fiquei impressionada em ver como o local está mudado. E como a receptividade ao projeto está sendo grande. Vejo cada vez mais que a fórmula é uma cena cultural engajada trabalhando em parceria com o poder público. Este, concentrado em construir uma política cultural sólida e que estimule a diversidade cultural do nosso estado. Aquele, articulado em criar um novo cenário de efervescência, sem a timidez e a desagregação que muitas vezes vemos. É preciso ousar, experimentar e se mostrar.

Sonho com um Sergipe que se aproprie e se orgulhe da sua cultura, que não se venda às festas pré-fabricadas da Bahia e que, sobretudo, experimente e se alimente de todas as referências culturais, de todos as nossas manifestações.

Não há mais espaço pra justificativa de que em Sergipe não tem público pra isso ou aquilo. Há sim. E se ainda não é um público maduro, é uma questão de tempo. E o projeto/movimento do Coletivo do Beco é mais um passo. Parabéns a todos que estão engajados nesta caminhada. Ganha o Beco, ganhamos nós, ganha a cultura do nosso estado.

Dona Nadi: do tamanco ao canto da Mussuca



Esse perfil eu fiz em agosto, mas nunca postei aqui no blog. Apenas no Overmundo. Nem sei porquê... lá vai.


Em uma manhã de sábado, ela nos recebe com um sorriso no rosto em sua casa simples de quatro cômodos. Chegamos sem anunciar, mas Maria Nadi dos Santos, 62 anos, não se intimida e logo articula sua prosa fácil, extensa e musicada. É uma mulher apaixonada pelas memórias de sua vida e pela cultura de seu povo. Conhecida como Dona Nadi (sem o erre mesmo) e reconhecida como mestre da Cultura Popular sergipana pelo Ministério da Cultura, há décadas luta pela preservação cultural do povoado Mussuca, uma comunidade quilombola situada no município de Laranjeiras, a 23 quilômetros de Aracaju, capital sergipana.

Dona Nadi não nos recebeu sozinha. Estava com seu companheiro de quatro anos, Visconde, auxiliar de necropsia do Instituto Médico Legal de Sergipe, e fã caracterizado de Raul Seixas. “A primeira vez que eu o vi foi na TV, no programa de Bareta, e depois a gente se encontrou no bar de Marizete num dia como esse. No domingo era festa de Lambe-Sujo”, conta sorridente, enquanto fazia um gesto para que ele baixasse o som, que tocava “Metamorfose Ambulante”. “Ele trabalha com morto, mas eu não tenho medo. Medo mesmo tenho dos vivos. Ele é feio, é tudo, mas eu gosto dele”, declara em outro momento.


Foto de Lúcio Telles

Entre um passeio e outro pela memória, Nadi cantava uma de suas músicas ou relembrava canções do seu pai, José Paulino dos Santos, compositor, instrumentista e figura de frente do São Gonçalo, uma das manifestações folclóricas do povoado. Hoje, ela canta no Grupo do Samba de Pareia da Mussuca, manifestação folclórica única de Sergipe.

O Samba de Pareia foi criado como um ritual para celebrar o nascimento de um bebê no quilombo. Com tamancos de madeira, que para os negros simbolizavam a liberdade frente aos brancos, mulheres sambam e rodam em parelha, enquanto a banda toca e canta canções que falam de libertação e de afirmação da cultura de seu povo. Ainda hoje, os moradores da Mussuca comemoram a chegada de uma criança com o samba, a meladinha (cachaça com mel de abelha, arruda, canela e cebola branca) e o Rabo de Galo (vinho com cachaça), sempre no 15º dia de nascida. Comemoram também aniversário dos componentes do grupo, que hoje são 24.

Dona Nadi começou a sambar cedo, aos 12 anos, quando seu pai a levava para as comemorações das noites de São João. “Todo ano a festa era em uma casa. Começava às 9h da noite e terminava às 6h da manhã. Tinha samba em junho inteiro. Hoje só na noite de São João”, lamenta. Quando perguntada sobre o dom de cantar, ela não hesita: “toda vida eu gostei (de cantar). É a minha alegria, tudo entoa”.

Ela é analfabeta, mas a barreira da escrita não limita a sua criatividade. Nadi gosta de compor músicas, como o seu pai, que escreveu uma das canções mais famosas nas festas da Mussuca – “Trem Baiano”. “Não sei como faz para compor. O que vem na cabeça eu coloco. E dá certo né¿!”, solta a risada larga. Dá. No dia 8 de julho deste ano, nas comemorações da Independência do Estado de Sergipe, Dona Nadi foi agraciada com a Medalha do Mérito Cultural Tobias Barreto, que recebeu das mãos do governador Marcelo Déda. “Coloquei ele pra sambar. E sambei também”, conta.

Mãe de 10 filhos e avó de 26 netos, Nadi nem sempre teve a vida preenchida pela Cultura, embora nunca tenha deixado de amar e respeitar as raízes de seu povo. Durante 20 anos viveu um casamento que a afastou do que mais gosta de fazer: lutar pela preservação das manifestações folclóricas do povoado. O passado foi enterrado e ela mergulhou na sua missão. Atualmente, além do grupo de Samba de Pareia, ela participa do São Gonçalo; é líder do Reisado de Dona Nadi; e tem um grupo de teatro chamado Drama.

Vaidosa? Só quando sai de casa, diz. O cuidado em manter o cabelo preso com uma faixa florida, os anéis e o colar de proteção contradizem. No momento em que entra a neta Joana Carla, ela insinua a sucessão na família e exibe um pouco da sua vaidade. “Ali (mostra a menina) é mesmo que eu”, afirma com a certeza de que a pequena vai seguir os passos da avó.

Ela tem consciência de que a memória precisa ser preservada não apenas pela entrada dos novos. Um sonho de Dona Nadi e de todos os mestres da cultura em Laranjeiras é ter uma Associação. “A gente precisa para poder receber pessoas como vocês, colocar fotos, mostrar nossa história”. E ela sabe do que está falando. Recebe muitos jornalistas, pesquisadores, curiosos em geral. Não faz muito tempo, quatro argentinos estiveram em sua casa. Sem titubear, mandou a primeira pergunta: “Vocês, quando vieram da Argentina, estavam de máscara¿”, ri. “Barrei mesmo na porta de casa, mas depois deixei entrar”.

Em seu repertório de canções, não há apenas a cultura popular. Nadi é fã de Amado Batista, Roberto Carlos, Carmen Silva, e um dia até gostou de Michael Jackson. “Gostava dele enquanto era negro. Depois que tomou produto pra ficar branco, sai pra lá!”, conta. Forró Eletrônico¿ Nem pensar. “Forró é o pé-de-serra. Aquilo deveria se chamar outro nome, como Xamego”, sugere.

Entre os artistas sergipanos, seus preferidos são Cremilda e Josa, o Vaqueiro do Sertão, ambos também receberam a Medalha do Mérito Cultural Tobias Barreto, no dia 8 de julho deste ano. “Cremilda tem a voz e o ritmo do forró seguro”, afirma. O olhar fica distante mais uma vez, sempre para consultar a memória e puxar uma canção. E assim, entre a cultura e o cotidiano, Dona Nadi vive livre a sua aposentadoria, depois de décadas como funcionária pública da Prefeitura de Laranjeiras. Um exemplo da garra de um povo que tem como valor maior a sua identidade cultural.
“Não posso deixar o samba morrer, né?”.

Texto: Kadydja Albuquerque
Fotos: Lúcio Telles
Colaborador: Dudu Prudente

Wednesday, October 21, 2009

BlogBlogs.Com.Br

Você sabia? 3.0



Só pra reforçar o post que eu fiz sobre as redes sociais. Tempos exponenciais.

Nada a declarar



"Quem não tem nada pra dizer tem mais é que ficar calado". Sensacional.

U2, eu, você e as redes sociais



Eu nunca fui tão fã do U2, mas estou pensando em reconsiderar esse meu estranhamento quase sem motivo depois que fiquei sabendo que a banda vai transmitir o último concerto da sua turnê 360º via Youtube neste domingo, 25. É uma iniciativa inédita no showbusiness e demonstra, cada vez mais, que a aproximação com os fãs ou um público potencial através das redes sociais não é apenas um artifício da cena independente.

Sim, porque os ambientes 2.0 cresceram frente à uma demanda de liberdade de expressão e de criação de espaços para publicar uma produção que não encontrava vazão em uma indústria cultural fechada. Agora essa indústria cultural percebe a força das redes sociais e se apropria dela, seja para descobrir novos nomes, seja para promover artistas consolidados. Hoje em dia isso é mais visível no campo da música, mas é preciso que outras linguagens também se desenvolvam através das redes e saiam do gueto virtual, que acaba refletindo o gueto físico, como é o caso da literatura.

Eu sou uma entusiasta das redes sociais. Uso diariamente, tenho perfis em todos os sites, e acho bobagem essa história de que a pessoa precisa dosar a sua participação em ambientes 2.0. O ser humano sempre procurou espaços para se expressar, mesmo antes de existir os blogs, pioneiros no surgimento dos "prossumidores" (produtores e consumidores), e mais recentemente o Orkut, Twitter, My Space, Facebook, e lá vai...

Sou a favor de que é preciso se expressar. Seja pra falar do seu dia, do seu animal de estimação ou ainda tentar dizer coisas inteligentes ou divulgar o que anda produzindo. A internet é um ambiente de consumo ativo. Eu leio, ouço e assisto o que eu quero, e assim acontece com todos os internautas. Desligue a TV e ligue o computador. Tenha a liberdade de escolha sobre o que acessar e o que escrever.

Com as redes sociais, a globalização transcende o viés puramente econômico de consumo e relações internacionais, e se consolida enquanto apropriação cultural. Mas o fenômeno não é tão simples assim. Mesmo em contato com o mundo através da internet, continuamos, e isso é cada vez mais forte, com a necessidade de pertencer a grupos. É a tribalização do global, é o "glocal". É legítimo.

E como toda ferramenta, é apenas o meio. O que me fascina é que as pessoas têm tanto a dizer, a mostrar, a consumir, e a Internet é o grande palco. Claro que grande parte dos internautas reproduz um perfil de navegação que acaba sendo condicionado, mas isso é fruto de uma característica inerente aos seres humanos de se deter ao que é popular, de não perder muito tempo com o desconhecido. Ainda assim, estar conectado é essencial. Estar conectado é viver as potencialidades que o ciberespaço te dá. É o tal do atual sempre à espreita.

E eu sou um produto disso. Sou uma imigrante digital e encontrei espaço para expressar o que sai de mim, e conhecer muito mais do que me oferecem as estantes das livrarias, os canais da TV a cabo ou ainda as emissoras de rádio ou lojas de CD. E como eu, tantos outros saíram da condição de consumidores passivos. E além de nós, tantos outros podem e devem ter acesso à Internet quando a inclusão digital for mais do que cursos de informática e telecentros. Eu acredito nesse momento e o Bono Vox bem que podia abraçar a causa.

Sunday, October 18, 2009

Espelho de sonhos

No alto, a estrela distante
brilha com todos os meus sonhos
porque já transbordam de mim.
Reluz como sempre são os meus sonhos,
espelho em rostos distintos,
e uso as mesmas fúteis palavras
para o que nem sei se sinto.

Se não sei sentir, por que tentar?
Se vivo a tentar, por que insisto?
Confundo um sonho, um rosto,
e esse alto e distante coração,
amarelo como a estrela
ou como em um poema de Neruda,
sangra reticente e tolo.

Antes, não houvesse céu e estrelas.
Antes, estivesse morto.

Kadydja Albuquerque

Tuesday, October 6, 2009

A insônia e o coração-alarme



"I'm discontented with homes that I've rented. So I have invented my own" - by Pink Martini (feat Jimmy Scott) / Tea for two


Tenho insônia e meus gatos dormem. Não é uma falta de sono por excesso de preocupação, ou de estresse, ou de tristeza. Nada disso me faz despertar. É insônia de quem tem a alma fervilhando de possibilidades. Aprendi a gostar de ter esses momentos só meus no avançar da madrugada: boa música, leite com chocolate e uma tela em branco.

Dá pra pensar na vida, pra reprojetar a vida, pra deixar que a vida aconteça. Esse é um problema contemporâneo: as pessoas não esperam mais que a vida aconteça. Somos programados dentro de uma rotina diurna e vamos dormir frustrados porque não conseguimos fazer todos os deveres dos outros e pros outros. Adormecemos mais incompletos ainda porque não conseguimos parar para refletir sobre nós mesmos, ou assistir aquele filme, continuar a leitura de um livro ou ainda ficar mais tempo com os seus.

Não esperamos mais que a vida aconteça porque vivemos em um mundo apressado. Tudo é um teste de competência, de habilidade, de dinamicidade, de limite pessoal. Precisamos nos mostrar sempre conectados, atualizados, rápidos, múltiplos, submissos, solícitos, e não importa o que você de fato é. Você precisa apenas ser algo interessante para o outro.

Bullshit. Gosto sempre de observar os meus gatos e aprender com eles. É engraçado que sempre quando estou estressada ou triste, algum deles vem até a mim e fica me encarando com cara de superioridade. “Você é uma boba”, até ouço eles dizerem. E é isso mesmo. Somos todos bobos à procura do que não nos preenche, sempre com essa mania suicida de racionalizar tudo.

Acredito que racionalizar é importante em alguns momentos da vida, mas nada substitui a voz do coração. Quem exercitar um pouco essa ligação, vai saber utilizá-lo como uma bússola que te mostra o que é certo, o que é errado, o que não frutifica, o que apodreceu. O meu coração não é uma bússola e sim um alarme enjoado que soa sempre. E isso me faz entrar em conflito constante com o que eu sou e o que eu sei que eu deveria ser. Complicado¿ Eu diria intrigante.

E assim é o coração de toda pessoa. Ele sempre fala melhor à noite, a essa hora. Agora, por exemplo, enquanto eu escrevo e ele soa me anunciando um mundo bem mais interessante pela frente.

Drummond

Desde o meu primeiro contato com Carlos Drummond de Andrade, eu me apaixonei por ele. É o meu poeta querido entre todos que eu venero. Drummond tem cara de vozinho. Um fofo. Seus versos cortam, afagam, emocionam, causam perplexidade aos aspirantes da poesia como eu.

Estava navegando pelo site Colherada Cultural (que indico veementemente!) e encontrei uma notícia sobre a criação de um site sobre o poeta pela editora Record > http://www.carlosdrummonddeandrade.com.br. Indico e sugiro que naveguem sem pressa.




A hora do cansaço
1984 - CORPO


As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Sunday, October 4, 2009

ELA



Quando ela acredita,
as nuvens se dissipam
negras,
tal um grão de areia
açoitado pelo vento.

Quando ela grita,
os passarinhos calam
livres,
tal o tamanho da fé
tal o peso do lamento.

Quando ela sorri,
as flores desabrocham
coloridas,
tal é a sua leveza
de viver todo momento.

Quando ela acredita,
ela grita,
e depois sorri.
Primeiro a fé,
depois o lamento.
Lá, dentro,
sempre reside a leveza
aos olhos atentos.

Kadydja Albuquerque (04.10.2009)

Foto: Central Park - NYC (agosto 2009)

Saturday, October 3, 2009



Fé. Duas letras e carregam a força de todo alfabeto. Fé não se pega, não se mede, não se oferece. Está aí, de graça, para quem quiser senti-la. Eu todos os dias cuido da minha fé, como cuido dos meus gatos e do meu cabelo. É parte de mim e não me imagino sem ela. A vida já é árdua demais quando acreditamos no que nos move e nos condiciona a situações boas ou ruins; e seria mais difícil ainda sem ela.

Hoje acordei e li um salmo de São Paulo: “... esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Verdade. Não é preciso acreditar em Deus ou em seres encantados para crer que o desapego ao passado, a serenidade em relação ao presente e a confiança diante do futuro é o que te faz conseguir aquilo que deseja. E essas atitudes se sustentam na fé em si, no outro, naquilo que é abstrato.

Eu acredito em Deus. Acredito nas forças do universo. Acredito em mim e nos outros. Por muito tempo tentei entender o que não se deve. Entender não é o verbo melhor. Estou incorporando outro a minha vida: ser. Não é fácil. Somos seres curiosos, queremos respostas para perguntas que só nos machucam, queremos nos encaixar em padrões. E as respostas da vida não são dadas como em uma entrevista ping-pong. Elas demoram ou elas nem surgem. Nos dois casos há um único motivo: a resposta está em você.

A fé está em você. A festa está em você. O universo é você porque ele é seu. E aí não tem pra onde correr. Só há um caminho: o autoconhecimento. E esse caminho é duro, muitas vezes negro, revelador. É preciso querer se revelar. Eu já não sei se estou falando de fé ou de caminho. Acho que dos dois. Fé e caminho são almas gêmeas. A chave talvez seja o desapego ao resultado, ao fim da caminhada, ao que vamos encontrar.

O outro está sempre ali, à espreita, a provocar nossos sentidos. E nós deixamos porque é muito entediante viver apenas em si. O autoconhecimento não pode ser isolamento. E é na permissão da entrada do outro em nossas vidas que nossos átomos se inquietam, que surgem os ruídos na alma, os julgamentos de postura, os confrontos de essência.

E pra viver e ser com tudo isso é preciso ter fé. A fé que cantam os músicos, que escrevem os poetas, que rezam os religiosos, que negam os ateus, a que recorrem os desafortunados. É a mesma fé e nunca é a mesma. É o anoitecer em silêncio, a presença distante das estrelas, a vitória que vence o mundo, o ópio do povo, a única saída.

Fé. Duas letras e carregam o sonho de uma humanidade.

Foto: St Patrick's Cathedral - NYC.

Friday, October 2, 2009

Enjoo

Eu acho que estou passando por uma crise criativa. Ou melhor, por um enfrentamento de essência. Sempre que eu tento escrever um texto corrido, um conto, uma crônica, um devaneio qualquer, eu me esbarro em versos. Cansei de versos. Mania chata de querer colocar a vida em estrofes.

Eu nunca tive métrica. Acho a rima algo escorregadio. Eu só queria escrever um texto banal sobre a minha vida, o meu dia, meu ano, meu mês. Comentar o meu horóscopo ou minha jornada de trabalho. Falar sobre um show que eu assisti ou um programa de final de noite com amigos. Queria que esse meu blog fosse mais leve, mais atualizado, mais lido, mas tudo.

E no entanto, não quero escrever sobre nada disso. O que eu tenho de interessante pra dizer que as pessoas queiram acompanhar? Vou ser mais uma que opina sobre as Olimpíadas, o Pré-sal, o último clipe da Madonna, ou a tsunami na Indonésia. Eu não. Eu queria mesmo escrever algo que não fosse sobre mim, mas que não tivesse 75 milhões de pessoas opinando.

Queria escrever uma nova versão da Hora da Estrela. Tenho tantas mulheres dentro de mim e não consigo transformá-las em personagens. Será porque eu não percebo o mundo do qual eu faço parte? Ando sem referências, e ao mesmo tempo com tantas histórias que me provocam, mas que fogem de mim quando estou em frente à tela branca.

Acho que eu cansei de ser eu, assim, versada. Será? Tava demorando.

Ou pode ser só um surto de sexta-feira à noite.